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Matérias



O bode no confessionário

- 08/12/2009

Por vários dias seguidos, aquele bodinho maravilhoso desfilava garbosamente na rua principal, colocando o To­nho em polvorosa. Era tudo que sempre quis e o bodinho parecia não ter dono, aumentando a tentação do sertanejo que só pensava em afanar o dito-cujo:

- Eita tentação! Arreda! Credo em cruz!

Outros dias se passavam e a tentação aumentava, o bodinho até fazia graça pra Tonho, balançava a cabeça, tremelicava o rabo, esticava-se todo, numa querença de fazer gosto. Enquanto isso, Tonho já sonhava com o bode na roça, com as cabritas empolgadas pelo charmoso convidado. Mas roubar o alheio era pecado, dos graves e isso apoquentava o juízo. Às vezes, Tonho já se sentia até como dono do bodinho deslum­bro­so. Era seu, e ponto final! De repente, caía na realidade e corria pra igreja, pra botar a mão na pia de água benta, procurando perdão pelo desatino que pensava em cometer.

Foi aí que viu o vigário. Não havia ninguém na igreja e Tonho resolveu fazer uma “consulta” no confessionário. Foi se achegando, meio sem ­jeito, cara de culpado quase arrependido, e tentou explicar o ca­so:

- Sabe, padre, acho que Deus me mandou um bo­di­nho que vai ser a salvação, mas também fi­co pensando se não é fruto do pecado, só pra eu roubar e, nesse caso, o bodi­nho é do demônio. O que devo fazer? Como saber se o bodinho é de Deus ou do Diabo?

- Meu filho, o problema é outro. Tire as minhocas do juízo. Ou você roubou, ou não! O bodinho é só um bodinho, e pronto!

- Mas, padre, o bodinho é uma tentação...

- Você teve a intenção de roubar o dito-cujo?

- Bom padre, sabe como é, roubar, não! Mas bem que eu pensei em ir tangendo o bodinho lá pra roça, no bem-calado.

- Pois é, seu cabra safado, já teve intenção de furtar e, então, já furtou, ora essa. Perante Deus, vale a intenção. É o mesmo que ter roubado.

- Puxa, padre, mas eu fiquei com medo de pecar e não roubei, não!

- Mas teve a intenção de afanar o alheio. É pecado, e grande!

 

 

 

Tonho se conformou, aceitou a peni­tência, rezou 3 ave-marias, e pediu perdão a Deus, mas o bodinho continuava lá, no fundo do juízo. Um dia seria dele. Sentia que pagou penitência por um pecado ainda não cometido.

Ia saindo, quando o padre se aproximou e perguntou:

- Tonho, a igreja está em reforma, e queria lhe pedir um dinheirinho pra ajudar.

Tonho, perdoado do pecado, puxou duas notas de dinheiro, bonitas, novinhas, e ofereceu pro padre.

O vigário quase avançou sobre as notas, mas Tonho puxou de volta, negando a doação. O vigário não ­entendeu, ficou bravo e perguntou:

- Que é isso, Tonho! Vai dar, ou não, o dinheiro pra igreja?

- Estou pensando que o padre está mais desejoso do dinheiro que eu.

- Ora, Tonho, é claro que estou, pois preciso consertar a igreja. O estranho é que você deu o dinheiro e, agora, está pegando de volta. Por acaso está querendo enganar o padre?

- Nada disso, sô vigário, quem disse que eu havia dado?. Foi o senhor que teve a intenção de ganhar, não foi?

- É claro que foi, claro que tive a intenção de pegar.

- Pois é, padre, se teve a intenção, é o mesmo que ter recebido.

O padre ficou sem entender, mas arriscou:

- E daí?

- Bom, padre, o senhor fica com a in­tenção do dinheiro e eu fico com a intenção do bodinho. Mas a gente pode fa­zer uma troca: o senhor fica com o di­nhei­ro e eu com o bodinho. É tudo a mes­ma coisa.

Muita gente testemunhou que aquele foi um dia muito feliz para Tonho que, na rua principal, abraçou-se ao bodinho, contou-lhe leros e foi tagarelando, levemente, em direção ao seu roçado, levando o bodinho de seus sonhos. Tonho agora sabia que o bodinho viera de Deus e o preço foi até barato: só duas notas no­vinhas entregues na mão certa que abençoava a nova aquisição.






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