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Matérias



O bom bode velho

- 31/10/2008

O velho coronel sempre teve bodes machos até debaixo d´água. Do atual, então, nem se fala, cobria tudo e sobrava troco pras cabritas da vizinhança e ele nunca se fez de rogado. Tinha filhara­da pra mais de mil propriedades. Acontece que o relógio da vida não pára e o bode velho foi ficando mais velho e, com as juntas doendo, já não podia dar conta daquela juventude toda que brotava todo ano, cada vez mais assanhada. Foi então que o coronel decidiu comprar um bode novo. Foi até a feira, escolheu, es­co­lheu, pagou uma nota preta num bode musculoso e macho. Não deu certo, pois o bode nem quis desempenhar suas ­funções. O coronel ficou tiririca da vida e comprou outro bode novo. Foi tudo igual. Comprou um terceiro: de novo tudo igual. Até que, finalmente, o coronel resolveu comprar um bode de exposição, campeão e tal. Gastou uma grana ­preta, comprou o mais musculoso, cheio de prê­mios e documentação. Dessa vez tu­do iria dar certo.

Nem bem chegou em casa, o bode novo, cheio de si, resolveu ditar as regras do jogo pro bode velho:

- Escuta aqui, ô velho, eu agora sou o gostosão por aqui e vou fazer o trabalho com todas as ca­britas...

- Puxa, até que tá certo, mas não daria pra deixar umas três ou quatro pra minha velhice?

- Nada disso, são todas minhas, tenho que dar conta do compromisso, pra salvar o investimento do patrão.

- Tá bom, se não pode deixar quatro, deixa então só três.

- Nem vem que não tem. Nem quatro, nem nada.

- Poxa, vamos fazer um acordo, você fica com tudo e eu fico com duas escolhidas, mais velhinhas, só para ­sentir o gosto.

- Não e não e não. Seu tempo já pas­sou. Agora é a vez do bode novo - eu! - reinar.

- Bom, se não tem jeito, então vamos terminar tudo com honra. Bode ma­cho que é macho, de verdade, disputa até cair encriquiado. Então, vamos decidir na luta, ou melhor, na corrida.

- E como é isso?

- Vamos disputar duas cabritas numa corrida. Se eu ganhar, tenho direito às duas. Se você ganhar, fica com todas e eu vou pro céu.

- É, assim pode ser.

O bode novo olhou pro bode velho, alquebrado, dolorido, não seria páreo para uma corrida, jamais! Afinal, ele era o melhor cor­redor de suas redondezas.

No dia seguinte, na hora da corrida, as cabritas estavam todas lá, convidadas pelo bode velho, que ia mostrar como se derrota um bode novo. Elas, ouriçadas, queriam saber como isso seria possível, e tagarelavam alegremente sobre este duelo jamais disputado em outras épocas. Havia mais de 50 cabritas lindíssimas, enfeitadas, de pêlos macios, esperando o grande momento.

O bode novo chegou, desfilou sua imponência, seus músculos, todo exibidão, conquistando olhares apaixonados. O bode velho foi se achegando, capengando, quase se arrastando, sem despertar nem um único ó.

Tudo pronto para começar, o coronel estava assentado na varanda, observando aquela arrumação, fora de hora, no sol quente, e tentava entender qual seria o mistério por trás desse bizarro comportamento. Percebeu que havia feito uma boa compra, pois as cabritas só queriam se encostar no bode novo.

O velhote, sem chances, aproveitou o momento e falou:

- O sol está bravo, minhas pernas hoje acordaram doloridas, as cabritas estão aplaudindo o novo herói, mas eu gostaria de terminar com honra minha carreira. Assim, o nobre duelista poderia permitir que eu saísse uns vinte passos à frente.

É claro que vinte passos não ­seriam nada numa corrida tão desproporcio­nal e o bode novo nem se fez de rogado:

- Mas é claro, meu velho. Pode sair na frente, mas corra muito, pois vou lhe alcançar rapidinho.

O bode velho calou-se, tomou posição, enquanto o outro fazia piruetas, exibia uma musculatura invejável e as cabritinhas deliravam.

 

 

 

Chegou o mo­mento, foi dado o sinal, o bode velho disparou na frente. Essa seria sua última corrida na vida, não podia perder e tentou não reduzir a diferença dos vinte passos. O bode novo, no entanto, vinha no encalço, babando, vociferando, com os cascos ribombando. O bode velho, quando percebia que o outro já encostava, dava uma acelerada na direção da casa-grande, para chamar a atenção. O bode novo encostava, tentava ultrapassar o bode velho, mas este - manhoso - trancava a frente. O bode no­vo, cheio de energia, saltava sobre o bode velho, mostrando toda sua vibração.

A corrida durou pouco tempo, os dois estavam bem perto da ca­sa-grande, quando o bode novo finalmente conseguiu saltar, mais uma vez, sobre o bode velho, derrubando-o no chão, furiosamente. O bode novo babava de prazer por ter derrotado o rival.

O coronel agarrou a espingarda, que sempre estava ao lado, e espinafrou:

- Eita bode novo, bichana duma figa. Aqui é que você não fica mais. Aqui não é lugar de bode-gay.

E deu ordem para desaparecerem com o bode novo, reclamando pra patroa que trazia o café:

- Olha, nega, que coisa! Gastei uma fortuna e até esse danado também é gay!

Assim, no terreiro continuaria imperando o bode velho que, afinal, ia cumprindo suas funções com grande expe­riência, lentamente.






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