A carne ovina e a microrregião de Presidente Prudente
Ricardo Firetti e Andréia Luciane Moreira
A ovinocultura é uma atividade desenvolvida em todos os continentes e está presente em áreas sob as mais diversas características de clima, solo e vegetação, porém, somente em alguns países apresenta expressão econômica, sendo, na maioria dos casos, desenvolvida de forma empírica e extensiva, com baixos níveis de tecnologia.
Estima-se que o rebanho ovino mundial seja de 1,9 bilhão de cabeças, apresentando redução em números absolutos em torno de 10,7% de 1990 a 2003. Em contrapartida, no início dos anos noventa, a produção de carne era estimada em 7,02 milhões de toneladas enquanto em 2005 atingiu o patamar de 8,45 milhões de toneladas, contabilizando um acréscimo de 17%. Isto indica que nestes anos houve a especialização dos rebanhos mundiais para a produção de carne e aumento de produtividade.
No Brasil, a estimativa do Instituto FNP é de que o rebanho ovino seja de 16 milhões de cabeças, dos quais 60% estejam localizados no Nordeste, 25% no Sul, 6,4% no Centro Oeste, 4% no Sudeste e 4,6% em outros Estados. O crescimento do rebanho nacional, de 2002 a 2005, foi de 16,5%, no qual a região Sudeste obteve expansão de 32,7%.
Em 2006, o Brasil importou quase 7.075 toneladas de carne ovina ao custo de US$15 milhões (aproximadamente R$ 33 milhões). Deste total, 91% da quantidade foram de peças não desossadas congeladas, sendo o Uruguai o principal exportador. Além deste item, o país ainda importa peças não desossadas frescas (do Chile), carcaças e meias carcaças congeladas de ovinos e cordeiros e mais de US$1 milhão (R$ 2,2 milhões) em carnes de ovinos desossadas.
O principal Estado importador foi o Mato Grosso do Sul, respondendo por 53,32% do total, sendo 3.516 toneladas de peças não desossadas congeladas, seguido por Santa Catarina. São Paulo importou 11,08% do total brasileiro, dos quais 609 toneladas de peças não desossadas congeladas. Na região Nordeste, a Bahia foi a responsável pela importação de 45,30% do total de carcaças de cordeiros, congeladas, ou seja, quase 37 toneladas.
Em 2007, de janeiro a junho, foram importadas 2.900 toneladas de carne ovina, sendo carcaças inteiras e meias carcaças de cordeiros, carnes desossadas e outras peças congeladas não desossadas, equivalentes a US$6 milhões (R$ 11,7 milhões). Isto representa acréscimo em torno de 18% em relação ao mesmo período de 2006. Além de Uruguai e Chile, neste ano a Argentina passou a fornecer carne ovina ao mercado brasileiro, especificamente carcaças e meias carcaças de ovinos, congeladas (18,5 toneladas).
No Brasil, o consumo de carne ovina gira em torno de 128.570 toneladas, dos quais 35% concentram-se no Estado de São Paulo, ou seja, 45 mil toneladas de carne ao ano. Somente o município de São Paulo, capital, consome cerca de 33.750 toneladas, ou seja, 75% do mercado estadual, e 26,25% do mercado nacional. O consumo per capta da carne no Sudeste é de 1,2kg/habitante/ano, quantidade irrisória em relação à demanda de outras carnes, no qual o poder aquisitivo dos consumidores finais é o grande orientador do consumo.
Segundo dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) realizada pelo IBGE, São Paulo possuía, em 2005, um rebanho de 345 mil cabeças (57% da região Sudeste), dos quais pouco mais de 17% concentravam-se na Região de São José do Rio Preto, cerca de 12% em Araçatuba e 11,76% em Bauru. A estimativa do Instituto FNP é de que em 2007, o Estado possua o efetivo de 368 mil cabeças.
São José do Rio Preto, Araçatuba, Marília, Presidente Prudente, Bauru e São Carlos podem ser consideradas as regiões mais importantes de São Paulo, pois compreendem 114.214 cabeças, cerca de 1/3 do total.
O rebanho efetivo de ovinos da microrregião de Presidente Prudente é o quarto maior do Estado, no qual estima-se que existam 15.232 cabeças de ovinos, cerca de 4,5% do efetivo estadual. Esta região, no entanto, tem grande potencial para a produção de ovinos, tendo em vista a grande disponibilidade de área de pastagens (1.360.425 ha) e o interesse de produtores rurais em viabilizar novos negócios em detrimento da pecuária de corte, como por exemplo, a cana-de-açúcar e a própria ovinocultura.
A microrregião de Presidente Prudente compreende 30 municípios abrangidos pelos Escritórios de Desenvolvimento Regional (CATI) de Presidente Prudente e Presidente Venceslau, estando localizada no oeste do Estado de São Paulo. É composta por uma população de 553.741 habitantes, dos quais 14,52% vivem na zona rural. Deste contingente rural, cerca de 5.100 famílias estão assentadas em 95 assentamentos estaduais e 10 federais, em área próxima a 100.000 hectares. Dados da CATI (1997) apontaram que esta microrregião possuía cerca de 21 mil produtores rurais que exploraram áreas inferiores a 100 hectares e cerca de 70% das unidades de produção agropecuária tem até 50ha e respondem a 11% da área total voltada à produção de alimentos. Em contrapartida, 16% da área total voltada à agropecuária é composta por propriedades acima de 500ha.
Do ponto de vista industrial, o grande destaque é o município de Presidente Prudente, que concentra grande maioria das empresas da região. Conta com 445 indústrias localizadas em quatro distritos industriais, tendo como principais ramos de atividade as bebidas, carnes, laticínios, álcool e açúcar, derivados do couro, calçados, vestuário e artefatos de tecidos, metalúrgicas, gráfico, mobiliário, químico, farmacêutico e veterinário, borracha, material eletrônico e de comunicação, e plásticos.
Estimativas do Escritório Regional do SEBRAE (SP) apontam que a região possua, atualmente, cerca de 150 criadores de ovinos, concentrados principalmente na região de Presidente Venceslau. Destacam-se Mirante do Paranapanema, Presidente Venceslau, Caiuá, Teodoro Sampaio, Marabá Paulista, Presidente Epitácio e Rosana com rebanhos acima de 1.000 cabeças. Desses, Caiuá foi o município que apresentou maior crescimento relativo do rebanho, em torno de 133%, enquanto que na região toda a evolução foi de apenas 3,52%, entre 2000 e 2005.
Apesar de a ovinocultura ser tradicional no Sul e no Nordeste, a produção brasileira não tem conseguido atender à demanda interna e somente o manejo reprodutivo e sanitário adequado, associado aos princípios básicos de criação destes animais, possibilitará o uso mais eficiente dos recursos forrageiros disponíveis, transformando a atividade em uma alternativa de renda viável para os produtores rurais.
Atualmente, o sistema de produção de carne preconizado como ideal é de confinamento de cordeiros com dietas de alta proporção de concentrado, pois os animais jovens são mais exigentes nutricionalmente, possuem rápido e eficiente ganho de peso diário e atingem idade precoce para o abate, aumentando a taxa de desfrute do rebanho e contribuindo para maior giro de capital.
Embora o sistema de confinamento e abate precoce esteja sendo realizado com eficiência econômica no Estado paulista, principalmente por produtores que atingem nichos específicos de mercado com maior remuneração, a criação de pequenos ruminantes em pastagem de boa qualidade é, geralmente, a forma mais econômica para produzir carne.
A terminação de cordeiros em pastagens, ou seja, de animais cruzados com aptidão para ganho de peso, ocasiona maior tempo de vida para abate, proporciona ganhos diários menores quando comparados ao confinamento e maiores cuidados com endoparasitas, mas sua grande vantagem reside no menor teor de gordura na carcaça, condição exigida pelo consumidor moderno, e principalmente, custos diários de produção reduzidos e menor aporte de investimento em infraestrutura e capital de giro.
Nesse sentido, diferentes estratégias e sistemas de produção de carne ovina devem ser estudados e desenvolvidos buscando maior eficiência econômica e menor custo de produção, em virtude dos diferentes segmentos de mercado para este produto, tanto na capital do Estado, maior consumidor nacional, como em outras regiões.
Ricardo Firetti é pesquisador científico da Pólo Regional de Pesquisas da Alta
Sorocabana (APTA) e Andréia Luciane Moreira é pesquisadora e zootecnista
da Pólo Regional de Pesquisas da Alta Sorocabana (APTA).
Título original: Mercado da carne ovina e potencial da microrregião de Presidente Prudente.
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