Qualquer analista de mercado compreende o mercado das "bolhas". Quando uma atividade é muito dinâmica, surgem as "bolhas", ou "bolas-de-neve". O que é isso? São os oportunistas que - enxergando uma chance de ganhar dinheiro, aos montões, em pouco tempo, investem pesadamente no setor. Exemplo: compram vacas de milhão, montam laboratório de biotecnologia e logo têm seu próprio leilão, regado a champanhe e televisão, vendendo o que existe de melhor em termos de genética. Se um único empresário destes provoca uma corrida para o negócio, imagine se houver 10 ou 100 iguais. Imagine quando um deles diz que vai formar um pólo para abrigar 50 ou 100 mil ovelhas de parceiros! Uma beleza!
A pecuária seletiva, ou seja, de animais geneticamente superiores sempre conviveu com os momentos de "bolha". Basta surgir um animal diferente, supercampeão, e pronto! - eis uma "bolha" formada.
A ovinocultura está disparada, pois as estatísticas são claras: o Brasil tem plenas condições de sair de seus 30 milhões de animais e chegar aos 100 milhões, facilmente. Basta investimento particular nessa direção. Nada melhor para gerar muitas "bolhas".
Assim, por um lado, este fenômeno é muito bom, pois - se existe "bolha" - então existe uma evolução acelerada dos animais. Só se faz "bolha" com animais muito bons, e alta tecnologia, na modernidade. Isso é bom.
Os empresários observam tamanha euforia e iniciam seus criatórios, participando do momento-bolha, adquirindo matrizes de alta seleção. Os nordestinos nunca ganharam tanto dinheiro como agora, vendo seus animais serem disputados pelo mercado. Coisa muito boa em um mercado que vegetou durante 500 anos!
Outros empresários dão brilhantismo às exposições; alguns aventuram-se em viagens ao exterior, trazendo animais e material genético de animais ricamente descritos em papéis. A atividade incorpora o luxo, a gastança, ao mesmo tempo em que o mercado usuário fica marginalizado, apagado, quase sumindo.
No auge do momento-bolha os animais de elite são lindos, maravilhosos, vistosos e, ao mesmo tempo, há falta de carne nas mesas dos comensais! Eis o paradoxo: os empresários investiram no rendimento fácil e se esqueceram da atividade-mãe que é fornecer carne ao mercado. Pelo contrário: todas as fêmeas encontradas são direcionadas para formação de novos rebanhos e, então, a carne desaparece.
O Frigomato (abates clandestinos), para manter sua clientela, paga preços excelentes - R$ 7,00 a R$ 8,00 por quilo - enquanto os frigoríficos oficiais pagam apenas R$ 2,50 ou R$ 2,80 pois têm incríveis despesas e impostos pela frente. Um enorme descompasso.
A bolha, porém, vai mais longe: com o passar do tempo haverá milhares de produtores de animais de elite, sem um mercado comprador dos descartes. O mercado usuário não estará consolidado e, sem ele, de acordo com o primeiro mandamento da Economia, nada feito!
Quando as vendas de animais de elite dá sinal de fraqueza em muitos currais, um frio percorre a espinha e surge a pergunta: "será que a ovinocultura é mesmo essa atividade tão bajulada?"
A resposta é clara: "Sim, a ovinocultura é uma notável atividade, muito segura, mas - como toda atividade - precisa estar atenta ao escoamento da produção". Quando se tem o escoamento, então o mercado de animais de elite estará firmemente ancorado.
Acontece que o Brasil está apenas engatinhando no grande mercado da ovinocultura mundial. Só este enorme país pode atender às exigências internacionais, agora, ou mais adiante, nos próximos anos. Já é o maior produtor de carne bovina e logo será o maior de carne ovina. É preciso, no entanto, estimular todos os segmentos da cadeia produtiva para garantir justamente o brilhantismo da pecuária de elite.
Os países primitivistas, tendo vivido séculos de aspereza nos currais, saúdam com o máximo de euforia o momento de grandeza, que é o momento do despertar. Este momento de euforia pode constituir uma "bolha", sim, cheio de luzes, altos preços, grandes investimentos, mas ele passará, para dar lugar à solidez da concorrência internacional dos produtos: carne, leite e pele. Estes três produtos deveriam estar privilegiados na pauta dos investidores, mas ainda não estão.
Ao invés de apenas investir em animais de "alta genética", o mercado estará investindo nas genéticas corretas do lucro, voltadas para a carne (precocidade, maciez, etc.), para o leite (habilidade materna, etc.) e pele (rusticidade, adequação internacional). A "bolha" será furada, então, para dar lugar a um mercado muito mais amplo e duradouro. Os incautos, portanto, podem achar que o desaquecimento dos preços indicam uma verdadeira queda na atividade, mas isso não é a realidade, pois indica apenas a busca da realidade que não deveria ter sido esquecida, desde o início.
Ao mesmo tempo, o mercado de elite cresce, mas sem ter absorvido a tecnologia suficientemente e, então, advêm os pequenos desastres do dia-a-dia. É preciso conscientizar os compradores sobre as dificuldades a serem enfrentadas, para evitar o desestímulo a seguir. Somente o soldado bem estimulado vence a batalha.
O estímulo, na raiz da atividade, vem da produção de carne, de leite e de peles. Havendo um mercado produtor sólido, com facilidade de escoamento, então o mercado de elite terá o futuro garantido.
Publicado na Revista O Berro n. 101
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