A festança em Taperoá estava de vento em popa, chegando gente de todo pé-de-serra, para os quatro dias de muita cachaça, converseira fiada e, quem sabe?, até uma compra ou venda de um bodeco qualquer. No fim, valeria a festa bem vivida, pois alegria não teve nem tem preço.
Festa tinha, bebida tinha, bicharada tinha, mas faltava alguma coisa. O ar estava pesado, cinzento em pleno céu azul. Faltava animação. Esta festa não estava como as outras. Passou-se o primeiro dia, depois o segundo, e nada! O cansaço estava na cara de todo mundo. Nem os violeiros, sanfoneiros, os pífanos, nada! Ninguém mudava o tom cinza quaresmento que trancava os sorrisos e não deixava esquentar os negócios. Ninguém falava em dinheiro, pois não encontrava motivo.
Foi aí que Seu Argelino achou que a hora pedia discursos. E foi prefeito, foi vereador, foi deputado. Todo mundo discursou, mas nada! O povo olhava, olhava, e não queria nada.
Era preciso apelar para as forças máximas e alguém lembrou de chamar o próprio governador, pois as eleições estavam próximas. A comitiva saiu da capital, chegou a Taperoá, no meio de palmas da criançada da escola, como em qualquer cafundó. Só isso! O homem chegou ao palanque, discursou tudo que sabia, mas nada! O povo não queria mesmo se animar.
Até o antigo coronel-do-sertão ficou preocupado, não entendia porque tudo estava tão negro, ou cinza. Ninguém vendia, ninguém gargalhava. Onde estaria o erro?
Numa rodada pelo parque, vetustos do sertão encontraram Suetônio e a pergunta logo estourou:
- Amigo Sué, como é que a gente faz para dar animação a essa festa? Nem governador conseguiu alguma coisa. A festa vai ser mesmo um fracasso?
Suetônio pensou um pouco e veio com a resposta:
- O que está faltando aqui é cabrita. Pois o senhor autorize alguém a encher um caminhão de cabritas lá de Campina Grande e vai ver a festança que isso aqui vai virar.
Dito e feito, às sete horas do anoitecer, o foguetório explodiu nos ares, o zum-zum-zum de roda em roda, gente se coçando, se remexendo, um vai-vem doido. O que seria?
Todo mundo correu para a avenida para ver qual o motivo dessa reviravolta que valia mais que a multidão de autoridades ali presente.
Lá estava um caminhão cheio de cabritas, lindas, loiras, morenas, mulatas, sorriso escancarado, todas querendo festa grande para faturar mais "algum".
O governador foi se encostando em Suetônio, querendo entender, mas foi logo atropelado pela explicação:
- Não disse, governador, que as cabritas fazem a festa na terra do bode? A gente tava esquecendo isso! Bode que é bode quer cabrita! Tá aí o resultado!...
Publicado na Revista O Berro n.64
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