O Fórum Agrário Empresarial esteve reunido no dia 26 de abril, na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília, para uma tomada de posição do setor produtivo frente às questões agrárias e esclarecer à sociedade sobre os prejuízos ocasionados pelas invasões de propriedades rurais e demarcações arbitrárias de terras indígenas e quilombolas. As pitorescas estatísticas brasileiras são evidentes, de acordo com levantamento da CNA mostrando que estão sendo destinados, pelos políticos no Poder:
- 68,6 milhões de hectares para a suposta Reforma Agrária;
- mais 105,6 milhões de hectares para supostas terras indígenas;
- mais 21 milhões de hectares para quilombolas.
- Total = 195,2 milhões de hectares.
- Resultado = São 300.000 índios (0,15 da população, ou 225 comunidades, ou 75.000 famílias indígenas), resultando em 2.602 hectares por família - um disparate!
Enquanto isso, as propriedades brasileiras estabelecidas e em produção somam 4.859.865 unidades (Censo 1995/96). As lavouras anuais e permanentes ocupam, respectivamente, 47 milhões e 15 milhões de hectares, num total de 62 milhões de hectares. Resultado: menos de 12,757 hectares para cada uma, para produzir alimentos para o país inteiro e ainda pagar impostos para o Governo. (Comparar com os 2.602 hectares acima mencionados!!)
É muita terra para quem não produz e pouca terra para quem já produz.
Estranhamente, somente nos últimos quatro anos, dados do Incra informam que mais de 1.000 imóveis rurais foram invadidos, causando destruição de plantações, das áreas de reserva legal ou de preservação permanente, de maquinários e casas, além da matança de animais. Estas invasões acontecem sob a atenção do aparato governamental, desestimulando francamente a produção rural.
Ao mesmo tempo, se o Governo garantisse um preço adequado para o leite, estaria fazendo a "Revolução do copo de leite", promovendo 10 milhões de empregos no campo. Se garantisse um bocado de 100 gramas de carne para cada pessoa, estaria promovendo a "Revolução do Bife", gerando outros 10 milhões de empregos no campo. Se enxergasse o papel social de cabras e ovelhas poderia promover outros 10 milhões de empregos somente nas propriedades médias e pequenas. Tudo tão fácil e, não obstante, tão alheio aos programas mirabolantes dos governantes que têm se sucedido no Planalto nas últimas décadas.
Ao garantir o acesso à renda-esmola, pelo Bolsa Família e outras semelhantes - sem agregar o trabalho - o Governo mostra que não está interessado no bem-estar futuro das pessoas, pois só o trabalho dá dignidade. Resultado: a mão-de-obra escasseia, de norte a sul do país, pois as pessoas preferem ficar na boa-vida preguiçosa, esperando o dia de ir buscar a esmola no banco. "A esmola vicia o cidadão", dizia Luís Gonzaga, com muita sabedoria sertaneja, chegando ao cúmulo de boicotar, sistematicamente, as colheitas em vários Estados brasileiros.
Alguns pólos sertanejos reagiram: Em Lajes (RN) a produção de leite de cabra, contrariando a metodologia governamental, já passou de 14 mil litros/dia, sendo a maior do país. Pode chegar a muito mais, se o Governo não atrapalhar. Outros pólos estão surgindo no Nordeste sertanejo: Monteiro (PB), Apodi (RN), Cabaceiras (PB), Taperoá (PB), etc. Muito pode ser feito, agregando dinheiro e trabalho dos próprios sertanejos. Basta querer. O bode e o carneiro indicam o caminho da revolução social. É preciso dar trabalho ao homem, e não esmola!
O bode e o carneiro, ou a cabra e a ovelha indicam, de fato, algumas das ferramentas que podem adicionar lucratividade às pequenas e médias propriedades. Mais fariam os governos estaduais e Federal indicando a caprino-ovinocultura para as propriedades, do que implantando pomposos e vistosos programas "sociais" que engessam a mão-de-obra rural.
Ao engessar a mão-de-obra rural, o Governo leva os empresários à adoção de projetos poupadores de mão-de-obra, resultando no oposto da pregação nas televisões do Brasil. O que se vê é uma correria para a máquina e um menosprezo crescente da mão-de-obra rural, vislumbrando um futuro pleno de violência. Bem diferente fez a Índia que passou de 20 bilhões de litros de leite para mais de 80 bilhões, recebendo até 1,0 litro por produtor. Já o Brasil, seguindo a cartilha oposta, determina o recebimento de 200 ou 500 litros por produtor, levando à erosão dos postos de trabalho nas fazendas e o incremento do uso da máquina. O modelo brasileiro privilegia os cartéis, os latifúndios, a indústria - bem ao contrário do que vem pregando. Falta o bode e o carneiro na agenda governamental.
Por isso tudo, quando o Governo insiste em apoiar, mesmo que camufladamente, os invasores de terra, está rodando na contramão da História, pois está desprezando os legítimos produtores de alimentos já sediados nas terras. Seria muito preferível prestigiar aqueles que têm pouca terra e anseiam por dias melhores com mais um bocado de chão para cultivar, de verdade. Seria muito preferível ensinar a todos os pequenos e médios produtores as vantagens de criar cabras e ovelhas em suas glebas. Isso, sim, seria uma proveitosa revolução social no campo. Muito fácil de se fazer, muito fácil de ser entendida, pois o Governo estaria facilitando a produção, ao invés de ficar insistindo em dar esmolas que viciam o cidadão.
Estimular a criação de cabras e ovelhas é uma solução; insistir na doação de terras é cultivar a ilusão, como mostram as estatísticas. Nunca foi tão fácil escolher entre o certo e o errado, pois os próprios minifazendeiros estão apontando o caminho, entrando aos milhares, na produção de carne ou leite de caprinos e ovinos. Falta apenas o Governo enxergar, com bons olhos, essa realidade e estabelecer os mecanismos para acelerar esse processo, ainda mais. É o que todos esperam.
Publicado na Revista O Berro n. 102
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