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Tostões que geram milhões

Autor: Nathan Cruz - 02/11/2012

O exemplo que falta ao Brasil

 

 

De tostão em tostão chega-se ao milhão; uma entidade forte pode gerar milhões e milhões, partindo dos tostões dos associados, desde que haja uma orientação firme a favor de todos os produtores, como aconteceu nos Estados Unidos, Nova Zelândia, Austrália, África do Sul e vários outros países.

 

 

No livro “Agricultura Política - História dos Grupos de Interesse na Agricultura”, escrito por Mauro de Rezende Lopes e editado pela Embrapa, em 1996, há um trecho sobre como nós devemos nos portar num regime democrático. Um bom exemplo é como os produtores rurais dos Estados Unidos construíram, a partir de meados do século 19, um grande poder político nacional, respeitado pelos políticos e órgãos governamentais, e que lhes garantiu uma enorme influência na economia organizada daquele país. Vale a pena lembrar.

 

u Reforma Agrária com pé no chão - Com a Reforma Agrária de 1862 - que distribuiu terras para um grande número de soldados que deram baixa após a Guerra Civil americana - a quantidade de produtores rurais aumentou muito. Com o advento da mecanização, principalmente, de tratores e colheitadeiras, as áreas de produção cresceram e as ferrovias abriram perspectivas de escoamento da produção vinda de regiões distantes dos grandes centros consumidores.

Como resultado, os preços dos produtos agrícolas caíram de uma forma sem precedentes, levando os produtores rurais a passar por enormes dificuldades, gerando inadimplências e falências. A situação era agravada pela valorização da moeda americana, tornando mais fácil importar do que exportar, e pela indústria daquele país, protegida por tarifas alfandegárias muito elevadas, o que tinha como consequência para o produtor a compra de produtos industrializados por preços elevados e a venda da sua produção por preços baixos.

Os produtores sentiam-se excluídos do processo de crescimento econômico, queixavam-se de que o poder de compra dos salários rurais caíra muito em relação aos salários urbanos e industriais e que, em vez de prosperarem, estavam cada vez mais aumentando suas dificuldades financeiras. Surgiram grandes manifestações de protestos comandados por líderes agrícolas comprometidos com o ideal de eliminar o quadro da pobreza rural e defender o interesse dos produtores.

 

u Atitude - Em 1866, Oliver Hudson Kelley, um técnico do Ministério da Agricultura dos EUA, visitando o interior dos Estados do Sul para colher informações e estatísticas sobre a situação da agricultura, ficou tão impressionado com a condição de pobreza e miséria dos produtores rurais, que decidiu fazer alguma coisa por aquela gente. Kelley percebeu que os produtores teriam grande poder político se fossem organizados para defender seus interesses.

Então, convenceu mais seis pessoas e fundou, em 4 de dezembro de 1867, o Grange (termo em inglês antigo que designa fazenda, granja), que foi instalado em Washington. Dos sete fundadores do Grange, apenas um era produtor! Os outros seis eram técnicos do governo. O Grange foi a primeira e pode ser considerada a organização mais importante dos produtores rurais norte-americanos, por ter sido a precursora e mostrado o caminho.

Em 1874, apenas oito anos após sua fundação, já contava com 269 mil membros e representações em quase todo o país, com exceção de quatro Estados que não tinham atividade agrícola importante. O Grange superou a marca de 800 mil filiados próximo de 1950. Por volta de 1962 começaram um processo de redução do número de associados em função do crescimento de outras organizações rurais, sobretudo, organizações especializadas, como as de produtores de leite, mas o Grange existe até hoje, embora com uma importância mais histórica que efetiva.

 

 

 

O mercado de lácteos está esperando produção, no Brasil.

 

 

u Tostões para gerar milhões - Como todo movimento de produtores nos EUA, o Grange começou com a venda de uma ideia básica e a coleta de fundos para arregimentação dos produtores. O sucesso do movimento dependia não da ajuda do governo, mas da capacidade de gerar recursos próprios para mostrar o real comprometimento de os produtores lutarem por seus interesses.

A ideia fundamental que o Grange vendeu é de que se tratava de uma entidade cujo propósito era lutar contra a exploração do setor rural por outras classes econômicas organizadas do país. Assim, não se posicionava como inimigo frontal da indústria, mas contra o monopólio ou cartelização que permitia a fixação de preços ao produtor sem concorrência, favorecendo o aviltamento dos preços.

Da mesma forma, não se posicionava como inimigo das ferrovias, mas contra as altas tarifas cobradas pelo transporte monopolizado. Vendeu também a ideia de que era preciso que os produtores se filiassem à organização para que tivessem condição política e financeira, a fim de poder empreender essa luta e conseguir vitórias. Com relação aos recursos necessários, foi criada uma taxa de adesão e uma contribuição anual para custear as despesas da organização.

Com o crescimento da organização, o Grange, além do foco básico teve papel de grande importância no desenvolvimento da educação, da extensão rural e da pesquisa agrícola, no fortalecimento do cooperativismo, na eliminação de tributos agrícolas e de melhores condições para o comércio de produtos e insumos agrícolas, e na elaboração de toda a legislação vinculada ao setor rural, sendo inclusive decisivo o seu apoio para a criação da Lei de Ajustamento Agrícola, de 1933, que foi a primeira lei agrícola americana.

Kelley passou a ser um profissional pago pelos cofres da organização para mobilizar e organizar os produtores. Havia o entendimento de que a organização não podia ser conduzida com amadorismo, e que precisava também pagar os profissionais para dirigir e prestar serviços à entidade, e que estes pagamentos faziam parte das despesas da organização.

 

u Na cúpula - Em 1911, o Grange criou o primeiro escritório de lobby, convidando George Hampton, experiente líder agrícola e dirigente do Grange, para chefiá-lo. Hampton foi o precursor dos “lobistas” agrícolas em Washington, e sua atuação contribuiu para a aprovação de uma série de leis de interesse do Grange, que estavam encalhadas no Congresso.

Impressionam, na história dos primeiros dias do Grange e na biografia de Oliver Hudson Kelley, os empenhos na luta contra o estado de miséria e para mobilizar os produtores, rompendo com a desconfiança, desesperança e absoluta apatia dominante no meio rural dos EUA naquela época.

Não foram poucos os fracassos na sua longa caminhada, mas seu trabalho perseverante deu vida ao Grange, primeira organização de produtores dos EUA. Na esteira dele vieram os demais movimentos e, mais tarde, grandes organizações agrícolas, todos, capitalizando em cima do trabalho de Kelley no sentido de levantar a classe rural e fazê-la partir para a ação política.

Igualmente, impressiona a consciência do produtor rural americano que sabia, apesar das dificuldades, ser necessário colaborar financeiramente com as entidades e dirigentes que propunham lutar por seus interesses, para que essa luta pudesse ser travada e ganha. Ficou a lição!

 

u Brasil - O país tem a CNA - Confederação Nacional da Agricultura e outros organismos correlatos. Tem entidades, associações, Câmaras, etc. à vontade, mas todas lamentam a falta de verbas. A sociedade tem fundado centenas ou milhares de ONGs, mas nenhuma com abrangência nacional. Algumas de grande repercussão e aprovação, como a que constrói cisternas no Nordeste: ASA. Esta deu o exemplo: enfrentou a arrogância do Governo Federal e conseguiu se impor pelo notável serviço que vem prestando aos sertanejos. Se tivesse ousado enfrentar o Governo há 10 anos teria sucumbido e mais um bom projeto estaria engavetado, soterrado, aniquilado! Ao invés disso, continuou trabalhando e hoje é vitoriosa. As boas ideias precisam de um forte alicerce. A pergunta é: por que a CNA não estabelece os organismos necessários para libertar o desenvolvimento e crescimento do Brasil? Basta seguir o exemplo de alguns países, como Nova Zelândia, Austrália, Inglaterra e Estados Unidos - onde poderosas organizações comandadas por técnicos eficientes e alguns produtores rurais defendem e impulsionam o setor.

Estes países já deram o exemplo; cabe agora ao Brasil ocupar seu espaço, criando as organizações competentes para as diferentes atividades do setor rural.

 

u Cabra & ovelha - As miunças estão ocupando milhões de pequenas e médias propriedades no Brasil e há uma enorme vontade de aprender o manejo correto dos pequenos ruminantes submetidos aos mais diferentes e caprichosos climas. Eis algumas informações interessantes:

- Os bovinos de corte, no Brasil, gastaram 150 anos de estudos para atingir o sucesso, na modernidade, embora ainda estejam longe de atingir uma eficiência total, uma vez que a inseminação artificial mal passa de 5%, quando já poderia estar além de 80%;

- Os frangos fizeram sua parte, copiando procedimentos estrangeiros, com sucesso;

- Os suínos também copiaram procedimentos e estão em relativa segurança;

- O setor leiteiro é flagelado pela pobreza crônica; nenhuma entidade conseguiu impulsionar e gratificar esta atividade, ainda. Os brasileiros produzem leite por abnegação, por dedicação, pois a remuneração é baixíssima e os aviltes são constantes;

- Cabras & Ovelhas, portanto, têm um relevante papel a cumprir: mostrar que o Brasil está amadurecendo, prestando atenção às milhares de propriedades que já estão, ou logo estarão criando pequenos ruminantes.

- Faltam entidades de negócios no setor dos pequenos ruminantes. Podem começar com tostões que se transformarão em milhões.

 

Nathan Cruz - é Mestrando de Medicina Veterinária, em Jaboticabal, SP.

 






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