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O poderoso crachá

- 14/11/2011

Seu Namedes era conhecido por ser muito calmo e, naquele dia, recebeu a visita de um fiscal de governo, desses que acha que é parente e amigo íntimo de Deus. O homem desceu do carrão, com motorista particular, com um crachá vistoso pregado no paletó.

- Vim fazer uma vistoria, porque estão dizendo que nessa região tem mutreta naquela mata lá no fundo. Que, por sinal, é do senhor. Então, antes de lavrar um auto de infração, eu quero fiscalizar.

Seu Namedes, tranquilamente, respondeu.

- Pois o amigo pode fazer tudo que quiser, dentro dos conformes.

- Então, para começar, vou lhe adian­tar que vim para fiscalizar, fis-ca-li-zar tudo. Tá claro?

Seu Namedes não entendeu tamanho sermão e falou baixinho:

- Pois tá certo. Eu só quero dar um conselho: não vá por aquele trilhado ali.

O fiscal empertigou-se, viu que o tal caminho ia justamente se perder na ma­ta, onde devia ter coisa feia escondida.

- Ô Seu Namedes, eu não sou burro! Parece que o senhor não tá sabendo quem é que está aqui em sua frente.

Ninguém manda em fiscal de governo, não. Pois eu vou é por esse caminho, mesmo.

- Mas é...

- Nem mais, nem menos. Eu sou autoridade, posso fazer o que quiser e quando quiser. Está claro? Posso revistar sua casa e até suas roupas, tá entendendo?

Não deu tempo de Seu Namedes retrucar e o imponente fiscal já ia seguindo em passo marcial, para descobrir alguma maracutaia, para colocar no relatório do dia.

O sitiante nem tinha começado a dar milho para as galinhas, quando escutou um tropel e vê o fiscal, meio cansado, estropiado, se coçando, gravata troncha, cara inchada, vermelha, aos berros:

- Que diacho é isso? É carrapato? É abelha? É formiga?

- Pois eu quis lhe dizer, mas o amigo não quis escutar. Tá nos dias do carrapatinho safado, desses que vira ferida e coça até arrebentar.

O valentão não quis se fazer de molenga por causa de uns carrapatos, lavou a cara com sal e espinafrou:

- Vamos acertar essa pendenga quando eu encontrar o que eu quero na fazenda. Já que não dá para ir por esse cercado, eu vou pelo outro.

Seu Namedes foi calmo, de novo:

- O senhor é do governo, pode ir para onde quiser, mas eu não iria por aquele pasto ali.

- Tem carrapato também?

- Não tem, não, senhor.

 

 

 

O valentão, dessa vez, foi esperto: olhou o capim novo, umas ovelhas, algumas cabras leiteiras, nada demais, não haveria perigo. O sitiante não queria amassar o capim, só isso.

- Pois então é por ali que eu vou, pois um oficial de justiça tem que cumprir o dever na busca das coisas erradas.

Nem terminou de falar e já ia passando pelo arame, em passos largos pelo pasto das ovelhas, rumando para o mato onde deveria estar alguma coisa que poderia colocar o fazendeiro na cadeia.

Seu Namedes pegou o milho e foi tratar dos porcos, quando escutou uma correria, um tomba-tomba, bufa-bufa, lasca-lasca, um berreiro medonho e eis o oficial, todo lambuzado, segurando um enorme bode pelos chifres, com cara de mau.

- Vem me ajudar aqui, homem.

- Uai, por que? O Jeremias está no terreiro dele. Deixe o bichinho defender suas cabritas.

Numa correria amalucada, o fiscal passou por baixo da cerca, lambrecando a camisa limpa com barro. O oficial estava raivoso, havia perdido um sapato e torcido o pé:

- Isso foi uma armadilha. Aqui tem mutreta grande e o senhor está com mangação pra cima de mim.

- Não, nada disso. Venha tomar um café e se acalme, homem.

- Café? Quer me corromper, eu tenho cara de propina? O senhor me ferrou com o bode e quer parecer santo?

- Não, homem, o amigo não perguntou se tinha algum bode lá. Eu disse para não ir.

- Eu não preciso pedir ou responder a nenhuma pergunta. Está claro? Eu sou a justiça, aqui. Olha aqui o meu crachá. É crachá de governo, tá reparando?

Pegou o crachá e quase esfregava na cara de Seu Namedes:

- Tá vendo? É um crachá de autoridade. Ele abre qualquer porta, faz todo mundo obedecer. Com esse crachá eu vou até o inferno! E eu vou até aquele mato saber o que tem lá e, se tiver, alguém vai pro xilindró.

- Pois, tá certo, o senhor pode ir aonde quiser, mas se for para aquele mato, não passe por aquele outro pasto do bambuzal, acolá.

O homem bufou. Olhou o tal pasto: só tinha três vacas leiteiras, nada demais. O sitiante não queria perturbar o leite da vacas, isso sim!

Encheu o peito e rumou para o pasto das vacas em direção da mata. Seu Namedes viu tudo, balançou a cabeça e foi cuidar dos porcos, pois a hora estava passando.

Uns minutos depois, era um berreiro, um vupe-vupe, corre-corre, levanta-cai, o valentão com o enorme touro Corisco bufando a raiva acumulada, doido para chifrar os fundilhos do intruso, espumando e botando olhos vermelhos como o Cão solto em terra de gente pecadora.

O oficial estava imundo, cheio de la­ma e esterco, com baba na cara, trançando as pernas, no meio do pasto:

- Meu Deus, homem, segura o boi!

Seu Namedes viu tudo, arregalou os olhos um pouco e respondeu como se aquilo fosse algo muito comum na vida rural:

- Seu crachá, homem, mostre seu crachá, está na hora do crachá!

 






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