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O troco

- 06/10/2011

O novo criador de ovelhas, com chapelão do Texas, cinturão prateado, entrou no recinto e começou a escolher o macho mais bonito. Já sabia que o ­preço de um campeão carneiro era bem menor do que uma simples novilha ou potra que ele estava acostumado a vender. Então, comprar o melhor carneiro seria muito fácil. Daí um minuto, já estava rodeado de gente interessada em vender o produto dos sonhos.

- Estou só olhando, pois quero o melhor macho da exposição. Antes, quero ver todos - ia dizendo com paciência.

Foi passando de baia em baia, e logo enfrentou Petrônio, conhecido por ­vender gato por lebre, que foi logo dizendo:

- O patrão pode andar quanto ­quiser, mas vai voltar aqui, pois não tem bicho igual a esse meu campeão.

O novo criador nem teve tempo de responder e já escutou:

- Palavra de quem viveu a vida inteira no chiqueiro e sabe das coisas. Que o patrãozinho não se abestalhe por qualquer coisa ou palavreado insosso. Pois aqui está o campeão lhe aguardando.

Até aqui, a figura de Petrônio havia impressionado: grandalhão, camisa aberta, gente do topa-tudo. Nem bem o novato andou três baias e Petrônio já se encostava:

- Muito bonito esse animal, malhado, hum, hum, mas a mãe a gente conheceu bem...

Fez o comentário e saiu de fininho. Mais algumas baias, e lá estava Petrônio se encostando, sibilando:

- Esse bicho é um grandalhão de fazer imagem. Só que, por dentro, está bem longe do que mostra...

Mais uma vez, sumiu pelos cantos. Lá na frente, o novato encantava-se com um brutamontes e eis Petrônio se achegando:

- Esse tá inteirinho, legal, forte como pedra; só que os irmãos não deram nada que prestasse. Daí não sai coisa, não!

Chegou o meio-dia e, depois de ver dezenas de animais, o novato juntou-se com outros bem-arrumados e foi comer picanha na brasa, mas eis que chega o Petrônio, com o golpe ensaiado.

- Desculpe todo mundo, eu estou de saída; só vim dar um recado pro amigo. Eu sei que a escolha é uma só, pois o meu campeão é disparado na frente de tudo que tem aqui. Acontece que ele não está à venda. Ele vai pro leilão. Eu tinha que avisar o amigo.

 

 

 

Com essa estratégia, Petrônio sabia que o animal seria vendido por um preço muito maior.

- Mas eu tenho viagem marcada, compromisso, não vai dar para ficar pro leilão. Não tem um jeitinho de a gente fazer o negócio por aqui mesmo?

Petrônio, conhecedor das traquinices da vida, já esperava por essa ferroada e continuou a cantilena:

- Por mim, já estaria vendido, pois vejo que o amigo é gente muito fina, mas a companheirada, a associação, o prefeito, todo mundo veio pedir pra eu botar o bicho no leilão. Vai ficar muito feio se não botar. O nobre amigo entende minha situação. Afinal, o animal é a sensação da cidade. Mas se o amigo quiser, eu garanto o penúltimo lance, só para o animal ficar pro senhor.

- E isso é possível?

- Bom, a gente dá um jeito. Quando uma pessoa indicada por mim der o lance, o senhor esteja certo que o leiloeiro vai decidir na hora e o animal poderá ser seu. Pode deixar que eu ajeito.

O novato percebeu que tinha fumaça no ar, mas não era de perder uma boa briga e resolveu levar adiante:

- Então está combinado. Vou comprar o animal no leilão.

Na noitinha, o novato percorreu as baias, arrematando o juízo e vendo se estava comprando algo que valeria a pena. Ninguém se aventurava a dar palpite.

- Ôxa, se o amigo já tem posição firmada, pra que vou gastar minha azeitona?

Um outro, mais afoito, sussurrou:

- Em última análise, o bichão acaba dando umas boas linguiças, bem depressinha.

Resolvido a saber mais, o novato telefonou para dois amigos da capital, para descobrir alguma coisa do famoso animal no escritório de registro. Tudo que descobriu é que nada havia para ser descoberto, pois o mesmo jamais havia sido inscrito. Se tinha algum documento, devia ser falso. Ele seria o otário da vez, comprando o animal de Petrônio que, pelo visto, era o valentão das redondezas. Ficou danado pela enganação e bolou um plano para dar o troco no falastrão. Caiu numa arapuca, mas iria armar outra para dar o troco!

No dia seguinte, chegou o famoso leilão, com casa lotada, uísque solto, cerveja, salgadinhos atolados na pimenta, como de praxe. O calor esquentava o cérebro e logo os lances estariam nas nuvens.

Começou a festança e logo o poderoso animal estava no centro, sendo festejado pelo leiloeiro que já sabia de toda artimanha e antecipava sua gorda comissão. Começaram os lances, na esquerda, na direita, no centro, na esquerda, no centro, na direita - um pipocar de ofertas. O animal parecia ser mesmo o melhor. Até que alguém falou bem baixinho:

- Vixe, a família inteira do Petrônio veio aqui dar lances no animal.

Quando o preço estava na estratosfera, valendo mais que 20 bois gordos, ele viu a indicação de que, agora, ninguém iria mais dar lances; era o momento de ele finalizar o espetáculo. Então ergueu o braço e o leiloeiro, treinado, bateu o martelo:

- Vendido para o grande amigo que está começando sua notável criação com esse formidável animal. Parabéns e uma salva de palmas para ele.

Todo mundo aplaudiu. Autoridades saíram das mesas, todos querendo cumprimentar o jovem pagador. O microfone foi colocado em suas mãos e ele podia, então, finalmente, desabafar:

- Meus amigos, sempre tive um sonho de ter uma bonita criação lá em casa. Por isso comprei as melhores ovelhas que encontrei. Na hora de escolher o macho, minha mulher bateu o pé e disse: NÃO. Ela disse que só podia ter ovelhas. Nada de machos na fazenda para não prejudicar o espírito das ovelhas. Eu concordei com ela, claro! Mas eu entendi a grande amizade do Sr. Petrônio e o grande esforço que ele fez para me ceder o animal. Então, dei minha palavra de bom comprador e pagador. Por isso, comprei e está comprado.

Fez uma pausa, pois ninguém estava entendendo a conversa. Olhou firme nos outros criadores de ovelhas e finalizou:

- Eu dei minha palavra e cumpri. Agora, espero que Seu Petrônio dê a palavra dele para me entregar o animal do jeito que eu quero.

Petrônio nem sabia para onde a conversa estava indo e topou tudo:

- Mas é claro que lhe entrego o animal, do jeito que quiser.

E eis que o novato em carneiro, mas muito esperto nos negócios da vida, assinou um cheque, entregou para o leiloeiro e deu o troco:

- Pronto, o cheque foi dado. O carneiro é meu, está inteiramente pago. Pois então, Seu Petrônio, o senhor está convidado para, logo depois do leilão, fazer a castração do animal que estou comprando. Ele vai servir para rufiar minhas ovelhas até eu encontrar um carneiro de verdade.

Caiu o céu, mas o novato, rodeado de amigos, foi logo saindo do recinto. Na porta já estavam três policiais. Seu Petrônio sumiu da exposição, enquanto o carneiro foi levado diretamente para o caminhão e foi castrado por um vaqueiro treinado, na frente de todo mundo.

Até o final da semana, as línguas andaram soltas, contando o caso regado a muita cachaça.






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