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Matérias



SÓ TEM CAPIM QUEM PERDE!

Autor: José Caetano Ricci de Araújo - 19/11/2010

Bactérias, fungos, caracóis, besouros, miriápodes, pulgões, minhocas, centopeias, formigas, partículas orgânicas e partículas minerais fazem parte do solo que, a rigor, tem sua riqueza abaixo da terra. Quem investe no capim, abaixo da superfície, pode ter um solo oito vezes mais rico.

 

 

A chegada das chuvas no semiárido nordestino é um acontecimento feliz que traz esperança especialmente aos que dependem da terra para sobreviver. Com a popularização dos pluviômetros plásticos, o produtor apressa-se para saber:

- Quantos milímetros choveu?

- Dez, vinte, trinta...

É interessante saber o volume das chuvas, mas, sem dúvida, importa muito mais saber quanto desta chuva foi capturada pelo maior “reservatório” das propriedades rurais que é o solo. Se a ­maior parte da água escorreu superficialmente devido à “camada impermeabilizante” de um solo compactado ou adensado, a chuva servirá apenas para provocar erosão e enchentes, enquanto o solo continuará praticamente seco. Se a chuva caiu sobre solos com baixa capacidade de retenção de água, sem ser “capturada” ela descerá para o lençol freático, servindo apenas para “lavar” o perfil retirando-lhe os nutrientes (sais solúveis).

Infiltração, retenção, drenagem, circulação de água, trocas gasosas e transporte de nutrientes são processos fundamentais para a vida vegetal que acontecem nos poros, espaços entre as partículas sólidas do solo. Nos poros maiores, como os encontrados em solos onde predominam areias grossas (partículas grandes), a água não é retida e desce pela força da gravidade para o lençol freá­tico. Nos poros menores de solos com predomínio de argilas (partículas pequeníssimas), a água fica tão fortemente retida que as raízes não teem força suficiente para removê-la. São os poros mé­dios que conseguem “segurar” a água e ao mesmo tempo disponibilizá-la para as plantas. Todo solo, independente de sua textura, terá capacidade de reter e disponibilizar água, desde que suas partículas estejam arrumadas em agregados (gru­mos) que possibilitem espaços porosos de tamanho e volume adequados.

Bactérias, fungos, caracóis, besouros, miriápodes, pulgões, minhocas, centopeias, formigas, partículas orgânicas e partículas minerais constituem o solo e estabelecem entre si influências recíprocas. Neste “sistema vivo” formam-se substâncias orgânicas e minerais (agentes cimentantes) que grudam as partículas umas nas outras formando agregados, que podem se juntar novamente formando conjuntos maiores, os grumos. A matéria orgânica, portanto, além de fornecer nitrogênio, nutriente essencial para as plantas, é responsável pela “arrumação”, estrutura ou bioestrutura do solo.

 

 

 

O pasto não é apenas o que se vê na superfície.

 

É a bioestrutura que mantém o solo “aberto” para que as chuvas consigam se infiltrar e permite que o volume explorado pela raiz seja maior. Em solos bem estruturados, mesmo com a diminuição progressiva da água no solo, o enorme crescimento das raízes proporciona contato permanente da planta com a água disponível em profundidades cada vez maio­res. Os pesquisadores calculam que, duplicando o comprimento radicular, a absorção de água e nutrientes ocorrerão em um volume de solo até 8 vezes maior. Em pastagens bem manejadas, o alongamento radicular produz uma i­mensa biomassa de raízes e sua decomposição forma canalículos no so­lo que aumentam a infiltração de água. Por esta característica, a pioneira da agroecologia no Brasil, Ana Primavesi considera os capins como “os melhores renovadores da bioestrutura [...]  e produtividade do solo”.

Inserido em um mercado cada dia mais competitivo, o pecuarista se vê pres­­sionado a produzir mais carne e leite por hectare. A tendência natural é superlotar suas pastagens, e assim fazendo, induzir a progressiva exaustão das reservas de matéria orgânica e a rápida deterioração da estrutura  e fertilidade do solo. Daí resulta a degradação, um problema que já atinge grande parte das pastagens. Tentando reverter este processo costuma usar o arado para “esmigalhar” a camada adensada ou o subsolador para “quebrar” a camada compactada. Tais medidas, de fato deixam o so­lo solto e aumentam a infiltração, entretanto este efeito é apenas temporário. Na falta de cobertura vegetal ou cobertura morta, na próxima chuva o solo será comprimido pelo impacto das gotas, a crosta se formará novamente e a compactação voltará a acontecer.

A única solução verdadeiramente sustentável, nestes casos, é administrar bem a bioestrutura do solo.  O bom mane­jo dos pastos é o caminho para uma  pro­dução regular de substâncias agregantes, capazes de manter o solo “aberto” para as chuvas, para a circulação do ar e para a penetração das raízes. Se o objetivo é eliminar a camada dura superficial e afrouxar o solo adensado, o “diferimento” é a técnica de manejo mais eficaz. Diferir um pasto é reservá-lo para uso posterior; é “fechar” o pasto no perío­do das águas para uso na época seca.

Em pastos diferidos há um enorme crescimento de raízes e acúmulo de reservas metabólicas pela planta. Há também grande “perda” de matéria vegetal, já que as plantas completam o seu ­ciclo, amadurecem e são em grande parte rejeitadas pelo gado. Este “pasto perdido” é a matéria orgânica recuperadora dos solos pastoris. O  aparente desperdí­cio é responsável pela redução do estresse fisiológico da gramínea e pelo acúmulo de resíduos (parte aérea e radicular) que são fontes de nutrientes.

 

 

 

Observar o solo, sempre, é como observar o cofre-forte da propriedade.

 

É comum dar atenção ao volume das chuvas e esquecer o percentual de água verdadeiramente armazenado pelo solo. Facilmente notamos a exuberância das folhas enquanto as raízes da planta, escondidas sob o solo, são esquecidas. Ao compreender a relação entre o solo, a planta e o animal que pasta, mu­damos radicalmente de ponto de vista e tomamos ciência de que a degradação dos solos pastoris é um problema realmente grave com repercussão não apenas local. O INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – atribui parte da responsabilidade pela crise energética de 2001 à diminuição da capacidade de infiltração das águas da chuva pelos solos mal manejados e compactados. As terríveis enchentes que têm desabrigado milhares de brasileiros nas últimas décadas, também estão intimamente relacionadas a esse fenômeno. Até o famoso “efeito estufa” é parcialmente creditado à liberação  do carbono orgânico da vegetação e de solos exauridos.

- “Só tem capim quem perde”. Repetia meu avô tentando transmitir sua experiência como produtor rural em São Vicente (atual Tiquaruçu – distrito de Feira de Santana-BA). Muito tempo depois compreendi o que ele queria dizer. Só é possível evitar a degradação das pastagens do semiárido permitindo o pleno crescimento radicular e proporcionando ao solo sua capacidade máxima de armazenar água. “Seu Zezinho” (José Gregório de Araújo), mesmo sem ter formação técnica, era dotado de uma aptidão natural para as coisas da terra. Sem nunca ter ouvido falar em “bioestrutura”, compreendia que o capim que “perdemos” alimenta a “vida” do solo. Muito an­tes de sustentabilidade e efeito estufa virarem “moda”, ele sabia a receita para sequestrar carbono nos solos e preservar a capacidade produtiva das pastagens.

 

 

José Caetano Ricci de Araújo - é Eng. Agrônomo e Produtor Rural - Ipirá (BA).






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