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De ponto em ponto

- 05/09/2010

Nas vésperas da exposição, pela primeira vez, Silva tremeu nas pernas: seu animal corria risco de não ser o campeão. Precisava de um olheiro desconhecido para ver o que acontecia no curral de Alencar, o sério concorrente de tantos anos.

Acontece que Alencar vinha de uma estirpe de sertanejos desconfiados e, de novo, desconfiou daquele desconhecido que queria comprar, mas não se decidia e ficava bisbilhotando sobre todos os animais da fazenda. Percorreu pastos e caatingas, sem se decidir. Tomou o último café e ficou de voltar no dia seguinte. Nunca mais apareceu e Alencar ficou na certeza de que o dito-cujo era enviado do Silva. Resolveu, então, dar o troco. Pareciam dois machos escavocando chão para marcar seu território.

Começou a linda exposição. Silva levou seu esplêndido campeão, para o qual não deveria ter concorrente, mas eis que lá vem Alencar com um animal maravilhoso. Silva tremeu nas pernas, de novo, pois seu olheiro não havia encontrado esse monumento na fazenda.

O juiz nem pestanejou, elogiou de mil maneiras o animal de Silva, mas deu o campeonato para Alencar. No bar, aconteceu a batalha, em forma de telegrama.

Alencar - Até que enfim, heim? Eu ganhei. Ponto.

Silva - Ganhou na mandronquice, pois não era esse o animal. Ponto.

Alencar - Não interessa! O que importa é o resultado. Eu ganhei. Ponto.

Daí para frente, estava claro que os dois jamais iriam ter uma conversa de gente grande. Seria sempre como dois telegramas. Ponto.

Na quermesse, ficavam se medindo e, quando se aproximavam:

Silva - Olha! Eu te vi, heim. Ponto.

Alencar - Ótimo! Eu também já te vi. Ponto.

Depois da missa, Alencar queria saber porque o velho amigo havia espalhado que ele era um chato. Silva, que gostava de boa briga, enfrentou:

Silva - Falei, sim! Tá falado. Ponto.

Alencar - Pois, então, já respondi. Chato é tu. Tá respondido. Ponto.

Assim, em vez de briga, só palavras com o eterno ponto final.

As arengas se multiplicaram, virando folclore, abrilhantando as conversas no dia da feira. Todos comentavam as últimas arengas dos dois mandachuvas, e seus lacônicos “pontos”. As implicâncias iam se encorpando, ficando cada vez mais negras. No domingo, os dois se defrontaram, de novo, na praça:

Alencar - Meu amigo Silva, você matou meu gato de estimação. Sei que foi você. Ponto.

Silva - Pois é, amigo! Foi um destino errado! Quando vi, já tava feito. Ponto.

Alencar - Isso não se faz. O bichinho era inocente. Ponto.

Silva - Inocente, uma ova! Eu sei o que ele aprontava. Ponto.

Alencar - Mas devia ter me avisado, antes. Ponto.

Silva - O bicho era um molesta e não careceu. Ponto.

 

 

 

Como o infeliz gato já estava velho, o assunto acabou por ali mesmo, para desagrado da plateia que pensava já numa guerra mundial por causa do bichano.

Os dias se passaram e, tendo um importante comprador de São Paulo para chegar, Silva resolveu comprar o mais lindo animal do Alencar, para brindar ao paulista, no meio do lote. Seria uma maneira de tirar um animal concorrente da próxima exposição.

Alencar, desconfiadíssimo dessa benesse, mandou, de propósito, um lindo Caraíba, mestiço de Anglo-Nubiano com Boer. Para um leigo, era quase igual, tinha orelhas compridas e muitas pintas pelo corpo. Mas Silva não era leigo, percebeu a treta, arrumou sua artilharia.

Logo cedo, já com o paulista em casa, chega o mensageiro do Correio e entrega um telegrama para Silva. Era o Alencar, claro! Estava escrito:

Alencar - Lindo animal, futuro campeão, enviado por engano. Ponto.

Silva tremeu na base. Rabiscou, ali mesmo, um telegrama-resposta e deu para o garoto levar para o desafeto.

Alencar estava em pleno almoço, quando chegou o garoto do correio, entregando o telegrama-resposta. Nele estava escrito:

Silva - Lindo animal, futuro campeão, comido por engano. Ponto. Estava bom. Ponto.






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