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Verdadeiro amor

- 03/08/2010

Zé de Nefa era mulherengo, todo mundo sabia, mas não passava do sinal de jeito nenhum, até por que morria de medo da patroa. Bastava uma piscadela ou uma virada de pescoço, em dia de feira ou na missa, e ela ficava com a bubônica, batendo o vento igual a peixe fora da lagoa. Então, Zé podia ser tudo, menos um traidor das juras do casório. Era homem só de faladices, piadinhas, palavrório que pensa estar agradando as garotas de boa idade da vida, até chegar a hora de uma boa talagada, que é só o que lhe restava em todo final de dia. Jamais viu que as moçoilas e dondocas davam aquele sorrisinho de piedade para ele. Acontece que, sendo mulher que não gosta de estar na boca do povo, a patroa foi crescendo nos dias e se cansando desta mania de Zé. Com o tempo se gastando, também se gastou a paciência feminina e agora só dava trela para Zé quando bem entendesse. Ou seja, nunca! Logo, Zé era um descasado, sem ser, dentro da própria casa.

O homem, porém, era pacífico, tinha suas artimanhas. Sempre rumava para o campo, onde passava o tempo tagarelando com sua plateia de cabras, ovelhas, marrãs, cabritas, bodetes e o que mais houvesse.

Assunto não faltava. Quando algum animal resolvia esquecer uma folha ou um ramo, por um minuto, despejando um ar de piedade para o infeliz, já era o suficiente para ele emendar um papo com a curiosa da vez. Assim passava mais uma tarde, depois de tantas outras, contando casos para os animais que parecia estarem escutando.

O certo é que a figura de Zé de Nefa já era conhecida: no final do dia, lá vinha ele trazendo uma companheira ou companheiro, chifrudo ou não, para a feira ou botequim, matraqueando sobre tudo que ia encontrando pelo caminho. Os bichos por certo não entendiam, mas eram compreensivos, esperando alguma recompensa que sempre tardava, mas acabava chegando.

Num domingo à tarde, com sol ainda forte, Zé de Nefa resolve passar em casa, com uma cabrita na corda, encontrando a mulher atarefada, se ajeitando para a reza do pôr-de-sol, quando iria encontrar as madames do povoado, para trocar novidades. A mulher, sem nem olhar, bombardeou:

- Ué, Zé, mas não é que é mesmo verdade! Agora você anda de paixonite com os animais, né?

O homem se lembrou que a mulher vivia dizendo que ele preferia as mocinhas da cidade, loiras oxigenadas, morenas rebolantes, todas incluídas no curral de “vacas” no linguajar furioso das madames carolas, consideradas do bem, apesar do palavreado pouco cortês ao se dirigir às garotas ou às mais afoitas.

 

 

 

Zé, afiado nas conversas de esquina, alisando a trunfa de sua cabrita, deixou escapar as palavras, lentamente, balançando a cabeça, conversando com a cabrita:

- Pois é, amor, esta é a “vaca” que sempre me consolava quando estava na pior.

A mulher deu um sorrisinho de vitória, e aproveitou para mais uma zombaria:

- Eita, homem estúpido, mesmo, está desmiolado. Se tivesse um pouco de juízo ia ver que isso aí não é uma “vaca” de cidade, mas uma ovelha. Esse homem passa a vida zanzando e, agora, o juízo é que saiu de viagem. Vive no curral e nem sabe mais separar uma vaca de uma ovelha?

O homem nem se mexeu, pois já havia se acostumado a tanto tiroteio doméstico. Puxou a cabrita pela corda e saiu de fininho, respondendo baixinho:

- Vamos embora, Mirabela, pois a mulher está muito nervosa, cega e ­burra.

A madame escutou e bastou isso para cair o céu. Parou os arranjos em sua embelezadice, rangeu os dentes e se armou para grande guerra:

- Nervosa? Cega? Burra, é? Eu? Pois, se é homem de coragem, repita.

Zé de Nefa acelerou o passo para tentar chegar ao portão da rua e, lá, satisfeito pela ligeireza, pegou a cabrita no colo e continuou a conversa, de mansinho:

- Não se importa, não, Mirabela, a mulher está mesmo muito nervosa, tem tanta “vaca” na cabeça que nem reparou que você não é ovelha, mas uma linda cabrita.

A mulher retrucou, lá de dentro:

- Eu tinha visto, sim, só não tinha falado. Está pensando que sou burra?

Sem nem se importar, Zé de Nefa alisava a cabrita, continuando a conversa:

- Não fique brava, não, Mirabela. A mulher é meio burra, mesmo, porque nem viu que eu estava conversando sempre só com você e nunca com ela. Nem viu quem foi chamada de vaca...

Apressado, Zé nem fechou o portão, e saiu acelerando em direção ao campo, com um sorrisão galhofo na boca.






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