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O sertão é rico, mas cadê as entidades?

- 05/04/2010

 

 

Senador Hugo Napoleão

 

Hugo Napoleão (senador do Piauí) deixa claro que a classe política não pode ser cobrada pelo primitivismo nordestino e nem por não estimular a caprino-ovinocultura como ferramenta de redenção para o sertão, pois as entidades do setor não levam tais solicitações até ela.

 

O Berro - No século XVIII, o Piauí era famoso, pela ação de Simplício Dias da Silva, que mantinha frota de navios, exportando couros e peles para Portugal. Diz a lenda que era tão rico que teria feito um cacho de banana, todo de ouro, para dar ao imperador. Também servia leite de cabra para a nobreza real e teria enviado queijos para o imperador. Naquele período era o maior exportador e símbolo de riqueza do sertão nordestino, com peles de gado, caprinos e ovinos. Sua fortuna terminou rapidamente, fazendo surgir o ditado: "pai rico, filho nobre, neto pobre". Depois dele, surgiu Delmiro Gouveia, que também fez fortuna com peles de cabras e ovelhas. Isso mostra que os animais adequados ao sertão eram e continuam sendo, de fato, referência histórica de que podem resolver o problema das pessoas do semiárido. Eis a pergunta número 1: por que os políticos nordestinos, desde aqueles tempos, nunca mais assumiram a redenção do Nordeste através da pecuária rústica?

R - Essas lendas e  folclore fazem parte de uma situação que traz um elenco histórico. Da mesma maneira de Simplício há também a modinha piauiense que diz: "O meu boi morreu, manda buscar outra maninha lá no Piauí. O meu boi morreu o que será de mim?" Ou seja, o sertanejo tinha um culto pela pecuária. O sertão nordestino, Bahia, Pernambuco, Ceará, Piauí, eram repositório de gado que servia para todas as regiões do país. Eu acho que tudo depende do político. Às vezes ele não é caprinocultor, às vezes ele se dedica mais à agricultura ou ao gado. Isso vai dependendo do saber e sabor de cada um. O conjunto de deputados e senadores do Nordeste tem ramificações profissionais, mas que indiscutivelmente de uma maneira geral, está a dever ao setor, “sim”. Os políticos poderiam fazer muito mais pelo setor rural nordestino.

 

O Berro - Houve, portanto, fortunas célebres no Nordeste sertanejo, tanto em gado, como em cabras e ovelhas, como em algodão, sisal, minérios, etc. Por que, na atualidade, os políticos praticamente desestimulam propostas que poderiam liquidar a miséria no sertão, dando autossustentabilidade à região?

R - Há políticos e políticos, há Estados e Estados. No geral, tem havido um grande progresso no sertão, a nível de pessoas, pois o dinheiro está circulando mais. Não acho que os políticos mereçam tanta crítica, pois eles levam adian­te o que lhes foi proposto. Se ninguém propõe, então como levar adiante?

 

O Berro - Não interessa aqui falar da atuação de um ou outro político, mas de toda a classe em geral, somando todos os governadores, senadores, deputados, etc. Isto nos leva ao antigo ditado do senador Eloy de Souza que disse, em 1902: "mais vale um bode ficar vivo na seca do que todos os políticos do Nordeste". Isto quer dizer que um bode vivo pode recuperar todo Nordeste sertanejo, não podendo se dizer o mesmo dos políticos. Eis, então a pergunta: por que a classe política atual do Nordeste não transforma a cabra e ovelha numa referência de riqueza? Por que o deixa a duras penas, sem chance até de gerar emprego e ainda com obrigação de levar para o Brasil essa imagem de que cabra e ovelha presta? Essa exposição, Feinco, por exemplo, é feita pelos nordestinos, em plena cidade de São Paulo, mas não tem apoio generalizado dos governos nordestinos. Estão aqui apenas a Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte. Por que a classe produtora de cabra e ovelha no Nordeste tem sido punida pela classe política que não tem dado atenção a isso?

R - Eu gostaria de dizer que não concordo muito com o que o finado senador do século passado disse. Não há que misturar seres humanos com semoventes. Há um engano muito grande em fazer essa confusão nefasta com o ser humano. A classe política está devendo, mas até que ponto o setor fez o chamado “grupo da pressão”, como bem ensinam todos os compêndios e que funciona no congresso? Será que as instituições de caprino-ovinocultura têm registrado no Congresso Nacional alguma instituição que cuide para acompanhar as leis do setor? Então, não vamos dizer que a culpa é dos políticos! Há políticos errados, sim, mas existem outros com muita boa vontade. Mas nunca se deve olhar uma ponta só. Quem sabe não haja necessidade de um entrosamento melhor? Maior atenção dos políticos; maior procura e boa vontade das classes do setor: esse deve ser o caminho.

 

O Berro - Considerando que a cabra e ovelha sejam uma referência de geração de emprego, de renda e de riqueza para o setor nordestino; considerando que no período da Sudene ela deu uma pequena expansão a essa geração de riqueza e que hoje o setor de caprinos e ovinos mostra ao Brasil que o Nordeste está em pé, pergunta-se: "por que a classe política, em seu todo, no Nordeste, não uniu ainda os governos regionais, para mostrar que o caminho mais rápido da redenção do semiárido está na pecuária rústica e não nas outras ferramentas que continuam sendo institucionalizadas?

R - O carneiro e o bode, como nós falamos, possuem características de rusticidade altamente eficazes nas oca­siões de seca. O que existe em relação a isso? Nós temos mais de 32 milhões de cabeças de caprinos e ovinos no país. Destes, 10, 2 milhões de caprinos estão no Nordeste e 7,2 milhões de ovinos. No meu Estado, o querido e sofrido Piauí, nós temos em torno de 1,4 milhão de ca­prinos e 1,3 milhão de cabeças de ovinos. Há um projeto local para as cabras e também o projeto Bioma do Banco do Brasil que são verdadeiros exemplos. Há ferramentas em ação.

 

O Berro - Estatisticamente, realmente 92% dos caprinos estão no Nordeste, principalmente no semiárido e 62% dos ovinos são deslanados no Brasil. Os ovinos deslanados do Nordeste são o ventre natural para os cruzamentos de carne a serem feitos para elevar o rebanho nacional de 32 milhões, como o senhor mesmo disse, podendo chegar entre 100 a 180 milhões, a exemplo da Austrália  dominando assim o mundo da produção de carne, como já somos fazemos na produção de gado. Sendo isso algo tão claro e transparente a pergunta é: por que a classe política não orienta para que os criadores mais pobres possam acelerar esse movimento que eles, os produtores, têm feito a nível nacional, levando uma boa imagem de nordestinidade para to­do o país? Vamos resumir de outra maneira: o Estado de São Paulo que é apenas uma criança na ovinocultura tem um crédito inicial de 120 mil reais para quem deseja começar na atividade, desde que coloque novos empregos na fazenda. No Nordeste não há um governo fazendo isso, de forma generalizada! O nordeste prefere dar três cabras para as pessoas não-produtoras. São animais que serão comidos na próxima seca. O Nordeste comporta-se como se a seca não fosse existir. Então, por que a classe política não segue o exemplo de São Paulo? Por que não há apoio a quem já tem terra e gosta de produzir?

R - Tudo tem duas pontas. Os políticos não procuraram os produtores, mas quantos membros das entidades produtoras procuraram os políticos, ou os governadores? Eu fui duas vezes governador do Piauí e não me lembro de ter sido procurado por ninguém do setor. Mas eu procurei o setor nos parques de exposições. Interessava-me pelo assunto e me colocava à disposição. Está faltando sabe o quê? Maior compreensão e boa vontade. Melhor entrosamento. Tudo na vida nasce, enfim, da expectativa positiva do entendimento. Se o entendimento acontecer, eu gostaria de ser um pequeno grão de areia nessa praia e ofereço, como político que fui durante muitos anos, para levar até quem for necessário, o pedido para constituir os órgãos de representação oficial junto ao Congresso Nacional, por exemplo. Não compete aos políticos, mas aos homens e mulheres do setor fazer a organização junto de Federações e Confederação para se fortalecerem.

 

Berro - Considerando que essa classe não é muito alfabetizada o senhor acredita que ela consiga se articular com a velocidade que se pretende?

R - Eu penso que poucos homens são tão inteligentes no mundo como o próprio brasileiro. Nós temos aí um exemplo: esta entrevista começou com pessoas lendárias do Nordeste, não importa. Nós temos, hoje, o presidente da república, que é sucesso nacional e internacional; ele não chegou à universidade e dá um banho de lição a muita gente. Tudo isto acontece em nosso país. Não há necessidade de ser letrado. Às vezes, as sumidades tropeçam na primeira realidade prática que aparece. (...) Eu tenho a melhor fórmula para conquistar as coisas: é só dar o berro. Nada como um bom berro.

 

A revista O Berro apresenta um resumo dos personagens citados:

 

 u SIMPLÍCIO DIAS - A vida de Simplício Dias (1773 - 1829) daria um romance espetacular. Filho excêntrico de um dos maiores comerciantes de charque, sal, couro, sola e embarcações do Nordeste, no final do século XVIII, ele estudou em Coimbra, patrocinou obras filantrópicas da rainha Dona Maria I, avó de Dom Pedro I, passou a frequentar festas e recepções da Casa Real, recebeu condecorações da Corte e casou-se com uma dama de honra da Rainha. Na Casa Grande de Parnaíba mantinha uma banda de música composta de meninos escravos e - diz a lenda - que, nos seus caprichos, chegou a presentear o imperador com um cacho de bananas todo de ouro, com pedras preciosas no bico das frutas. Era uma lenda, com 1.800 escravos, um homem poderoso. O corpo de Simplício Dias foi enterrado na matriz de Nossa Senhora da Graça. Sua fortuna desapareceu, rapidamente, nas mãos dos poucos herdeiros, dando origem ao ditado: "pai rico, filho nobre, neto pobre".

 

 

 

 u DELMIRO GOUVEIA (1863-1917) - Lampião nasceu para o cangaço; Padre Cícero para ser santo e Delmiro Gouveia para o trabalho. Delmiro fez o Padim Ciço de garoto-propaganda e teve Lampião em seu quadro de empregados.

Transformou a pele de bode no que havia de mais chique na moda de Nova Iorque. Era conhecido, no exterior, como o "rei das peles". Construiu o primeiro "shopping" do Brasil, o qual foi incendiado em 1900, pelos inimigos. Falido, mudou-se para o sertão alagoano. Ali, produziu a primeira pedra de gelo no sertão nordestino, construiu a primeira hidrelétrica no São Francisco, teve o primeiro automóvel, levou a jornada de oito horas para o Nordeste feudal, a primeira creche, um código de higiene, lições de ecologia, a proibição do uso de armas, as primeiras noções de irrigação, importou a palma-santa. Tudo isso no meio da caatinga e do atraso do mundo que o cercava.

Em 1914, inaugurou a primeira fábrica de linhas de costura e fios para malharia da América Latina. Em pleno sertão, a empresa chegou a empregar 1 700 pessoas, sendo 700 mulheres, o que era um avanço nos costumes da época.  Não conseguindo ser destruído, era preciso matá-lo! Em 1917, por ironia do destino, estando no alpendre, a luz elétrica por ele fabricada facilitou que pistoleiros o matassem. Morria ali o Brasil do futuro. A famosa "Linhas Corrente" mandou destruir máquinas, prédios, lançando tudo no rio São Francisco, para que ninguém mais se lembrasse de Delmiro Gouveia.

Diz Nilson Lage: "Se fosse nos Estados Unidos, Delmiro Gouveia teria um busto em cada federação das indústrias, um retrato em cada Lyons Clube, um lugar de honra na cartilha de moral e civismo da escola primária, mais ou menos como acontece com Benjamin Franklin, Thomas Edison ou Henry Ford".

 

 






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