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Matérias



Este bicho é meu!

- 04/02/2010

Dia quente, sol a pino, Seu Honório resolveu visitar uma de suas muitas fazendas. Saiu do povoado, levando junto o Zootecnista, o Veterinário e o Gerente, para irem respondendo às perguntas que sempre gostava de fazer sobre cercas, buraco no chão, árvores crescendo, etc. Perguntas bobas que todo empresário urbano, dono de terras, gosta de fazer, para mostrar que entende também das coisas rurais.

Lá pelas tantas, deu uma freada, arregalou os olhos, franziu a testa, havia descoberto algo terrível:

- Meu Deus, eis ali o meu sonho.

E se apressou a explicar:

- Sempre sonhei com um animal perfeito, o Supercampeão, e olha ele ali. Que carneirão mais lindo.

Todo mundo olhava, era um belo carneiro, sem dúvida, com jeito e pose de monumento, mas ainda era apenas um carneiro. Seu Honório estava encantado.

- Eu quero comprar esse carneiro, pelo preço que for. É meu! Esse bicho é meu!

Com muita educação, o gerente retrucou:

- É! - o bicho é muito bonito, mesmo, mas o senhor não pode comprar...

- Como não posso comprar? Tudo se compra, tudo se vende. É questão de preço. O senhor é gerente e sabe bem disso. Eu quero comprar o bicho, e pronto!

- Mas o senhor...

- Não tem mas, nem mas-mas. Eu quero o bicho, já disse.

O gerente engoliu a matriquela e se fez de estátua, pois sabia que ninguém enfrenta patrão furioso.

Seu Honório continuava:

- Veja só que imponência, que maneira de olhar, que grandeza! É um campeão! Veja que pernas grossas, que costas maravilhosas. É meu, é meu! O que você acha, Terê?

Terê, zootecnista, cujo nome era Terenoel, filho de Terezinha e Manoel, começou muito devagarzinho, nem querendo entrar no papo, desfiando o rosário:

- Sabe, seu Honório, o animal é maravilhoso, mesmo. É só observar o encarneiramento, as costelas, os boletos, a cauda bem formada, a pelagem, tudo é muito bom...

Muito baixinho, quase não querendo falar, sussurrou:

- ... mas acho que o senhor não vai poder comprar, não!

O empresário, ricaço até as tampas, explodiu:

- Eu compro! Já disse que eu, eu, eu, eu compro. Mas que diacho, eu quero o animal e vou pagar. Então, o bicho é meu. Fim. Tenho dito.

De novo, voltou o silêncio no automóvel último tipo, cheio de luxo, com vento gelado e até geladeirinha portátil para os uísques. O homem achou que podia haver alguma armação no silêncio e espinafrou:

- Olha aqui, são dois contra um, mas eu juro que vou comprar esse animal. É meu!

De novo, silêncio na caminhonete luxuosa, indicando que ninguém era contra.

- Acho que o carneiro vai fazer muito sucesso na exposição. O que você acha, Celônio?

Celônio, veterinário, que era filho de Célia com Antônio, tentou explicar:

- O animal é notável, muita masculinidade, com tudo no lugar para ser campeão. Formidável...

Fez uma pausa, pensando nas palavras que ia dizer:

- ... mas, sei não! Acho que o senhor não vai poder comprar, não!

Seu Honório deu um berro:

- Mais um! Mais um contra mim! Estou vendo que a briga virou guerra. A coisa está ficando quente, muito melhor. Só interessa briga grande, negócio de cabra macho. Pois vou mostrar pra vocês três que eu sei muito bem fazer as coisas. Vou entrar pela porteira e sair de lá com o bicho sentado aí atrás com vocês três.

Acelerou, entrou pela porteira, esbravejando:

- Vocês vão conversar com o carneiro até chegar na casa-grande.

 

 

 

Parou na frente de uma casa simples, mas de bom gosto, esperou o proprietário chegar. Desceram todos e Seu Honório, com chapéu novo, bonito, adian­tou-se, logo para topar qualquer parada:

- Seu homem, meu respeitoso bom dia, estou com uma pulga no juízo. Algum santo me disse que aquele carneiro vistoso, acolá no lajedo, nasceu para ser meu. Então basta o amigo dizer o preço que nós não queremos aborrecer mais o seu dia. Puxou um chumaço de dinheiro e começou a contar, como se o negócio estivesse fechado.

O matuto olhou, arregalou os olhos, era tanto dinheiro que quase babava. Pensou no que responder e, muito educadamente, foi falando:

- Olha, bem que todo esse dinheiro é muito bom, e a gente está sempre na precisão, mas ...

- Mas o quê, homem? Mas o quê?

- Bem. Não posso vender, não!

- Mas como não? O animal já foi aprovado pelo Zootecnista aqui do lado, pelo Veterinário, pelo gerente. Nós queremos o carneiro. É só dizer o preço! Olha o dinheiro aqui!

O homem encolheu-se, meio sem jeito, coçou a cabeça, e soltou:

- Se fosse vender, ia ser pura mangação e ninguém pode enganar um homem como Seu Honório. Então, já digo logo, não posso vender não!

Seu Honório esturrou:

- Mas, homem, que diacho, nós somos quase vizinhos de terra. É só me vender o bicho, a gente leva pra lá. O senhor pode ficar visitando, se quiser. Nós vamos tratar muito bem do animal. Por que diachos não quer vender? Que mangação? Onde está o defeito do bruto que ninguém reparou? O carneirão não cruza?

- Bom, não é nada disso, não!

- Então o carneiro é meu. Diga o preço!

- Sabe, Seu Honório, vá me desculpando, mas vou lhe dizer. É que nós não somos vizinhos de terra...

- Não? Pois é muito melhor. Desembuche, homem, e se explique!

O matuto finalizou, fininho, quase morrendo:

- É que essas terras todas, por aqui, são do senhor, meu patrão.

Num pingo de voz, encerrou o papo:

- O bicho, também.






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