Li em uma revista a seguinte parábola: “Um homem morreu e chegou ao local onde deveria escolher entre o Céu ou Inferno”.
Foi levado primeiro ao Inferno. Lá chegando viu enormes caldeirões cheios com uma comida muito mal cheirosa. O mau cheiro ia longe. Ficou espantado ao observar a imensa multidão de pessoas magras, esqueléticas, andando de um lado pra outro, chorando. Todas carregavam uma colher enorme, com a qual tentavam inutilmente comer a horrível comida. Ficou abismado por tamanho sofrimento, pois a colher não conseguia chegar à boca.
Em seguida foi levado para o Céu. Logo na entrada sentiu o mesmo cheiro da comida. Ficou espantado. Ao entrar viu os mesmos caldeirões e as enormes colheres, nas mãos das pessoas. Estas, no entanto, estavam gordas, limpas e felizes. Achou aquilo muito estranho e perguntou ao acompanhante:
- Por que a diferença, se a comida e as colheres são as mesmas?
Seu acompanhante respondeu:
- A diferença é o egoísmo, a falta de união e de solidariedade. No Inferno, cada um pensa apenas em comer mais que os outros e, então, não consegue erguer a colher com comida até a boca. Assim, terminam todos infelizes e com fome. Aqui, no Céu, as pessoas ajudam umas às outras a erguer a grande colher com a comida até à boca, assim todos comem e ficam felizes.
- E onde está a grande diferença?
- Não é a diferença na comida e nas colheres que torna as pessoas felizes ou infelizes, mas é a diferença na hora de dividir, de compartilhar os bons resultados entre todos”. Quando todos aceitam compartilhar, todos lucram.
De repente, vi que eu estava pensando se isto não está acontecendo na caprino-ovinocultura: todos querem muitos lucros, querem ter seu leilão e vender mais que os outros. Só o animal do Rebanho “xis” é bom e, mesmo que você tenha adquirido um filho daquele animal, na hora que ele entra no seu rebanho já não presta mais. Até as leiloeiras estão fazendo de tudo para ter mais leilões que a outra, não importando o resultado final, mas apenas a vaidade de afirmar que fez mais leilões que as concorrentes.
Ouvi de uma pessoa ligada a uma leiloeira, ao perguntar se o resultado havia sido bom:
- Já vendemos 300 mil. O primeiro leilão Tal e Qual vendeu 230 mil” (valores apenas ilustrativos). Ou seja, era obsessão em dizer que o leilão presente era melhor que os outros, embora a pessoa estivesse citando leilões que haviam acontecido alguns anos antes e em outra realidade! É um estelionato da verdade!
O resultado da tentativa de cada um ganhar mais com os grandes leilões (colheres) é que temos hoje 10, 15 leilões em 8-10 dias de exposições, fora os virtuais de quase todo dia. É uma amolação ver Leilão de Fulano, Leilão do Rebanho X e Y, Leilão Disso e Leilão Daquilo - todos com preços baixos, todos camuflando animais não vendidos e prejuízos.
Muitos criadores compraram Grandes Filhos, as Melhores Doadoras, animais adjetivados como “Não existe matriz melhor que essa neste leilão” pelos “consultores”, os Grandes Campeões das exposições, etc., mas - ao tentarem vender ao lado dos grandes - não tiveram chance. Isto porque os animais foram classificados, de novo, pelos “consultores”, como apenas “razoáveis”. Os mesmos animais, nas mãos dos antigos vendedores eram “excelentes”, mas - nas mãos dos compradores - transformaram-se em “razoáveis”. Já vi o caso de um animal “Extra” ser recusado apenas seis meses depois pela mesma “assessoria” que o vendeu como sendo “altamente qualificado”. O tal “assessor” teve coragem de dizer:
- Porque você não coloca um animal que atenda às exigências e características do leilão? Como é que você bota um animal desses pra vender”?
De novo, o estelionato do bom-senso.
Enfim, não seria melhor segurar as Grandes (Colheres) Leilões; ter menos leilões; com melhores resultados para todos: vendedores, compradores, assessorias, leiloeiras, tornando assim os criadores, ou até a cadeia produtiva feliz, com gordos lucros? Por que a obsessão em prejudicar os outros?
Estamos vivendo uma crise mundial que trará consequências diretas ou indiretas em nossa realidade. Precisamos nos unir para evitarmos maiores problemas, fazendo estoques preventivos, tanto de fundos como de insumos. Precisamos repensar nossas atitudes, promover mais união e não rir tanto da desgraça dos outros. Afinal, se o leilão dele foi mais fraco isso é, sem dúvidas, um indicativo de que algo precisa ser feito, mas não é motivo para que me alegre com tal fracasso. O tombo existe, potencialmente, para todos!
Este me parece o momento certo para repensar nossas atitudes, começando todos a segurar na grande colher e fazer o lucro (alimento) chegar à boca de todos.
Feliz Natal e um Ano Novo de muita paz e saúde para todos que fazem nossa caprino-ovinocultura brasileira.
Suely Ugiette – Técnica do Serviço Registro Genealógico de Pernambuco.