Importante pesquisa avalia o impacto econômico do vírus da Artrite-Encefalite Caprina (CAE) para produtores rurais da região Nordeste. O trabalho pioneiro é da médica veterinária Roberta Lomonte Lemos de Brito, elaborado como dissertação do mestrado em Zootecnia, parceria da Embrapa Caprinos e Ovinos com a Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA), ambas com sede em Sobral (CE), sob orientação dos médicos veterinários, Raymundo Rizaldo Pinheiro e Alice Andrioli, ambos doutores em Ciência Animal e pesquisadores da Embrapa.
A pesquisa de Roberta foi desenvolvida entre agosto de 2007 e outubro de 2008, com cabras provenientes de cruza Anglo-Nubiana com Saanen, em campo experimental da Embrapa Caprinos e Ovinos. A observação constatou que o grupo infectado com o vírus da CAE produziu 26% menos leite, que os animais não infectados.
A análise físico-química do leite demonstrou que o grupo infectado teve redução de 5% do nível de gordura do leite. Isto, segundo Roberta, se o produtor optasse pela comercialização do leite, levaria à redução de renda em função do menor volume de leite produzido e, caso escolhesse produzir derivados (queijos, iogurtes, doces), ele não teria muito êxito em agregar valor a esses produtos, devido à redução nos níveis de gordura no leite.
A dissertação também demonstrou que crias de cabras infectadas tiveram menor peso ao nascimento e, além disto, a taxa de 41,3% de infertilidade observada nesse grupo demonstra a influência do vírus CAE na reprodução, pois o manejo (em termos de alimentação, controle de parasitoses, entre outros aspectos) foi o mesmo dos animais sadios.
De acordo com Rizaldo Pinheiro - pesquisador da Embrapa e professor da UVA – o trabalho fornece importantes informações aos produtores rurais do Nordeste brasileiro, por ser o primeiro de avaliação de impacto da CAE na produção que toma como referência animais e condições ambientais do semiárido.
A CAE (Artrite Encefalite Caprina)
A Artrite Encefalite Caprina é doença contagiosa, causada por vírus da família dos lentivírus, que pode causar sintomas como inflamações nas mamas, pneumonia, articulações e encefalite. Em nenhuma de suas formas é curável. O contágio acontece principalmente pela ingestão de colostro ou leite contaminados, ou contato prolongado entre animais via secreção. A falta de cuidados na ordenha mecânica também pode determinar o contágio, bem como o uso de seringas, agulhas e tatuadores contaminados.
Segundo Rizaldo Pinheiro, a enfermidade já é considerada uma das prioridades do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para erradicação no país. O Ministério passará a exigir futuros exames para movimentação de animais, como exposições e vendas com dinheiro público.
Normalmente, o que se recomenda é que se a prevalência do vírus for de 5 a 10%, os animais do grupo contaminado sejam abatidos. Acima deste percentual, recomenda-se o isolamento, para que haja manejo diferenciado entre os grupos de animais com e sem a doença, com o objetivo de evitar a contaminação do grupo sem a doença. O resultado final é um só: os animais com CAE devem ser substituídos por animais sadios.
A Embrapa Caprinos e Ovinos implantou em 1994 um programa de controle da doença. Desde 2006, a unidade começou a produzir seu próprio kit de diagnóstico da CAE, utilizando a técnica de Imunodifusão em Gel de Agarose (IDGA). Além deste teste, atualmente o centro trabalha com outro que é o Western Blot, sendo este realizado de forma rotineira, fato este não observado em nenhuma outra instituição do país.
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