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Matérias



O bode que era cofre

- 03/10/2009

Contava meu pai, que havia ouvido do seu pai que, por sua vez, tinha escutado do pai dele e, assim, essa história vem lá do tempo do Império.

Seu Artêmio era um matuto daqueles que chegaram com a arca de Noé nas terras do Brasil. Gostava de todo ti­po de criação: galinha, porco, vaca, ca­bra, ovelha, coelho e o que mais surgisse. O seu bem-querer, no entanto, eram suas cabritas que, nas feiras do sábado, sempre rendiam uns trocados para ir levando a vida.

Certo dia, na feira, recebeu $ 3 (do­brões) divididos em 3 moedas granda­lhonas e desajeitadas. Atendendo outras pessoas, abaixou-se e eis que as moedas despencaram do bolso e nem chega­ram ao chão: o bodinho Honorico pegou no ar e engoliu todas de uma vez. O bo­dete havia se transformado em um cofre muito valioso.

Artêmio não podia ficar sem a grana e resolveu aplicar um vomitório no bodinho. Já estava meio aperreado, foi até o boteco de Quincas, pediu uma garrafa de cachaça da boa e dois copos. Encheu os dois, para espanto da plateia. Bebeu um e o outro foi enfiando goela abaixo do bodete que es­perneava, esperneava, mas acabava engolindo aquela coisa-ruim. Artêmio repetiu a dose e não demorou muito: veio o arroto indicando que o porre estava chegando pros dois. Artêmio sorriu, pois já estava enxergando o dinheiro voltando.

 

 

 

Pegou o bodete, colocou no meio do bar, e conversou:

- Agora, meu bichinho safado, você vai cuspir dinheiro pra mim.

Todos ficaram espantados. Onde já se viu bode cuspir dinheiro? Artêmio deu um chute na barriga estufada, lotada de cachaça, do pobre bodete. Deu outro; deu outro. E o bodete não teve jeito, abriu a boca, tossiu e eis que saiu uma moeda lustrosa, babenta, mas valiosa.

- Ohhh! - exclamou a plateia.

Não havia dúvida, o bode era milagroso, botava dinheiro pela boca.

O coronel, já vermelho pela man­guaça de vários copos, achegou-se e fez oferta:

- Artêmio, amigo velho, estou lhe dan­do $ 5 pelo bodinho de estimação. Dá para comprar um lote de bichos!

Artêmio recusou, estava enfezado e repetiu o ritual: mais dois copos, mais duas cachaças, pra ele e pro bodete que já estava pra lá do além, torcendo os olhos, bambeando as pernas. Artêmio aplicou mais alguns chutes no pobre bicho que, de novo, soltou um grosso arroto e soltou outra moeda cheirando cachaça.

- Ohhhh! - foi o eco dos olhos esta­telados pela maravilha. Ninguém nunca havia visto um bode tão ­im­por­tante.

O coronel, de novo, adiantou-se:

- Amigo Artêmio, pois aumento a oferta. Dou $ 10 pelo bodinho. E se lembre, homem, todo cofre tem fundo, tudo acaba.

Artêmio entendeu tudo errado, ficou com mais raiva, encheu mais dois copos da branquinha, bebeu um e despejou outro no bodinho que só bebia e apanhava. Aplicou mais dois pontapés na barriga do bicho e eis que ele emite um grande arroto e bota a terceira moeda pela boca.

- Ohhhh! - exclama a multidão. O bicho era mesmo um cofre milagroso.

O coronel, entusiasmado, mas nervoso por ver que seu dinheiro nada valia diante do povaréu, deu a cartada final:

- Seu Artêmio, é a última oferta: es­tou lhe pagando $ 20 pelo bicho. É pegar ou largar.

O matuto, tendo recuperado as 3 moedas, teve um relance de juízo, e es­bra­vejou:

- Pois tá certo, coronel, o bode é seu. Com esse dinheiro eu arranjo vários outros iguais lá na minha roça.

Tudo foi brindado com muita cachaça. Era o assunto do dia que chamou até repórter de jornal da cidade grande. O coronel iria conseguir mais umas moe­das, só para documentar que era dono do bicho-cofre, diante da imprensa. Bebeu a branquinha, deu pro bode e pes­pegou uns pontapés no pobre bichinho. Não tendo resultado, quis explicação e Artêmio deu conta do recado:

- Seu coronel, o bichinho tá de ressaca braba. Tem que zerar tudo, pra co­me­çar de novo. Bota no sol da caatinga que tudo se ajeita.

Assim foi feito e o bodinho, nem bem se recuperou, sumiu com pavor de gen­te e ninguém nunca mais viu nem seu rastro.






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