Implantar estrutura com formatação previamente estabelecida onde funcione um bodódromo é a grande ideia do deputado Edson Duarte, depois da conversa informal com criadores da raça Dorper em Senhor do Bonfim (BA). Se concreti­zada, representará um passo positivo para a Agricultura Familiar e para a cadeia produtiva da carne caprina e ovina da região semiárida.

Afinal, o que é bodódromo? É uma área comercial composta por restaurantes e lojas de artesanato, um espaço pa­­ra manifestações culturais e outras ati­vidades ligadas à caprino-ovinocul­tura. Projeto como este, que tem dado certo, é o bodódromo de Petrolina (PE), porém, o foco principal aqui é investir em novos empreendimentos, tais como:

s Incentivar o consumo das carnes caprina e ovina por moradores locais e também por visitantes oriundos de outros Estados. A multiplicação dos “fast foods“ na região tem afastado os jovens cada vez mais das tradições caatin­gueiras, levando-os a perderem referências sobre os costumes e a cultura da cozinha local.

s Restaurantes: proprietários e funcionários poderão ser orientados e capacitados através de instituições como o Sebrae. Desta forma, seria possível di­versificar a culinária - desde a buchada ao carré francês, da pizza de bode ao queijo fino de leite de cabra, etc. - atendendo a todos os paladares.

s Apresentações artísticas: músicas regionais, sanfoneiros, banda de pí­fanos, cantores, violão e violeiros, samba de roda.

s Artesanato: pequenos produtores poderão fazer parte na produção e criação do artesanato, complementando a inserção de vários setores.

 O conceito do novo espaço baseia-se em proporcionar à população do município que será beneficiado com o proje­to mais uma opção de entretenimento com ambiente agradável, que contemple a gastronomia associada à música e ao artesanato.

Abrangência econômica

Sabe-se que o consumo per capita das carnes oriundas da caprino-ovino­cultura no país ainda é baixo, com indica­dores ao redor de 0,8 kg/ano. Em comparação, a Austrália e Nova Zelândia registram consumo aproximado de 18 kg/habitante. Para que o consumo ­aumente no Brasil, o ideal seria estimulá-lo, ­ten­do em vista as propriedades organo­lépticas do produto e o excelente paladar.

À medida que a cadeia produtiva da carne vai se organizando, aumenta a busca pelo produto e, consequente­men­te, os preços se estabilizam. Este aumento no consumo pode favorecer a saí­da do atravessador, possibilitando aos restaurantes negociar diretamente com os produtores.

Raio de 100 km

O bodódromo de Petrolina comporta cerca de 500 mil pessoas e, hoje, bus­ca carne até em Senhor do Bonfim (BA), percorrendo a distância de 100 km. Calculando: se um restaurante tem consumo de 50 carcaças por semana, dariam 220 carcaças por mês e em torno de 2.500/ano/restaurante, em Petrolina. ­Is­to requer, pelo menos, 25 produtores com 80 matrizes cada um para fornecimento de um restaurante grande. Estimular o consumo regional seria, portanto, excelente para a cadeia produtiva, no entanto, é necessária a qualificação dos produtores, pois a exigência de melhoria do produto pelo consumidor final é a tônica do mercado.

Esta “mexida econômica” alcançaria toda a cadeia, desde o pequeno produtor até o grande.

Novos bodódromos

Acredita-se que o ideal seria a criação de um modelo previamente concebido, que associe gastronomia, música, dança e artesanato dentro de um modelo arquitetônico rústico, com decoração temática, e nos tamanhos pequeno, mé­dio ou grande. Isso, no entanto, vai depender da cidade escolhida para se instalar o bodódromo, com adaptações peculiares necessárias.

O projeto pode ser implantado em lo­­cais que necessitam de reformas ou cons­trução de praças. A inserção do bodódro­mo seria deflagrada pelo Estado do tamanho adequado e se o município tiver aptidão para a criação de caprinos e ovinos.

Beneficiados

São os seguintes:

u Toda a cadeia produtiva da capri­no-ovinocultura.

u O homem do campo, pois a atividade requer mão-de-obra, evitando sua mi­gração para grandes cidades.

u População dos municípios onde os bodódromos forem instalados, oferecendo centro de lazer e cultura.

u O consumidor. Com a orientação de instituições como o Sebrae, as opções gastronômicas seriam ampliadas com a reciclagem de bons “maitres” e cardá­pios variados.

u Os artistas regionais. Tradições cul­turais, musicais e artesanato ­regional teriam melhor divulgação e seriam resgatados, pois atualmente correm o ­risco de desaparecer.

u Os empresários. O bodódromo po­de gerar e circular riquezas regionais, ex­tre­mamente escassas no Nordeste e em outras regiões semiáridas, devido às adver­sidades climáticas e problemas socio­eco­nômicos.

u O pequeno produtor, pois a ­criação de caprinos e ovinos define-se cada vez mais como uma das atividades de exce­lência da Agricultura Famíliar e de pequenos produtores. Não exclui, todavia, a produção de carne em larga escala, a qualquer momento, pois os bodódromos simbolizam a existência de polos e estes levam à exportação!

u Estados da região semiárida, com ação inovadora e um bom projeto a ser executado de baixo custo e grande impacto social.

Luiz Teixeira é produtor de ovinos, na Bahia.