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Cuidados com os animais no tratamento antiparasitário

Autor: Marcelo Beltrão Molento e Leonardo Herme - 10/05/2009

 

 

 

Em grande parte das propriedades do Brasil, o sistema de produção é extensivo com pressão de pastoreio durante todo o ano, ou seja, os animais ocupam e consomem o pasto continuamente. Isso se traduz em animais expostos a cargas parasitárias sempre presentes em maior ou menor grau dependendo da época do ano (alterações climáticas), da presença ou ausência de “vermifugação” e do estado fisiológico (gestação, ­parto, engorda) e nutricional dos animais.

O que nem todos os técnicos compreendem é que estes fatores estão interligados no momento do tratamento e que isto pode levar ao sucesso ou total insucesso do controle parasitário, ocasionando graves perdas econômicas. O descaso na aplicação deste conhecimento pode inclusive acelerar o processo de seleção de parasitas resistentes.

Como forma de orientar nas decisões no momento do tratamento antipa­rasitário, inclui-se aqui um item especifi­co sobre qual o tipo de benefício (fixo, tran­sitório, incompleto) é encontrado pa­ra tais fatores em pequenos ruminantes. Tendo como único benefício fixo comple­to a seleção genética específica para tolerância aos parasitas.

 

Metabolismo

 

Quanto mais forte a constituição imu­nitária do hospedeiro, mais intensa se­rá sua capacidade defensiva de ­tolerar o “ataque” parasitário. Certas circunstâncias podem, no entanto, debilitar a imuni­dade animal, causando sérios danos ao me­tabolismo proteico, responsável pela for­mação e manutenção da massa muscular e do sistema imune. Este metabolismo é prejudicado pela diminuição da capacidade de digestão e retenção de nitrogênio e ainda pela perda de proteínas endógenas (lesões de mucosa, exagerada produção de muco e células mu­co­sas, e grande perda de células epite­liais) ou ainda interferências em momentos importantes da vida do animal, como a gestação e a imaturidade imunes relativas à idade do animal.

Animais jovens são mais sensíveis aos vermes do que animais adultos, entretanto, não existe o desenvolvimento de uma imunidade etária completa na vi­da de ovinos ou caprinos. Os ­cordeiros recém-nascidos (35-50 dias de vida), em­bora sejam sensíveis aos efeitos da ver­mi­nose, correm menor risco devido à bai­xa ingestão de pastagens e, portanto, me­nor desafio com as larvas. Animais com idade a partir de seis semanas até o desmame são os mais afetados, enquanto que os adultos podem sofrer menos devido à proteção adquirida ao longo do tempo de exposição a estes parasitas.

Devem-se considerar estes mesmos fatores imunológicos no período periparto das fêmeas, pois alguns fatores foram incriminados (ex: prostaglan­dina), porém, não esclarecidos, sobre o au­mento da sensibilidade frente aos efeitos dos parasitas. Neste caso, é aconselhável tratar esta categoria entre 2 e 3 semanas antes do parto e nunca tratar no dia do parto ou logo após.

Obs.: Benefício fixo, incompleto.

 

Estado nutricional

 

Animais bem nutridos, com alto nível de proteína na dieta, podem lidar me­lhor com os efeitos das parasitoses. Ca­so estes animais não recebam suple­men­tação durante o período seco - quando diminuem quantidade e qualidade das pastagens - o problema das parasitoses poderá ser agravado.

Desta forma, os animais com melhor condição corporal (escore acima de 2,5), além de apresentarem resistência orgânica e produção de anticorpos satis­fa­tórios contra os parasitas, também po­dem permitir que algumas drogas melhorem seu efeito farmacológico. Este úl­timo dado é demasiadamente importante e pouco observado, pois as lactonas macrocíclicas (moxidectina, abamecti­na, ivermectina) são moléculas que têm alta afinidade pelo tecido adiposo (camada de gordura), fixando-se por mais tempo nestes locais, sendo liberadas mais lentamente, entretanto, animais com escore muito alto, acima de 4,5 (obe­sos) podem ter o efeito da moxidecti­na diminuído.

Obs.: Benefício temporário de curto prazo.

 

Manejo de espécie animal

 

Animais de espécies diferentes podem ser acometidos por diferentes pa­ra­sitas, podendo, na grande maioria dos casos, competir pelo mesmo pasto sem a chance de infecção cruzada. Esta práti­ca de alternar pequenos ruminantes com outros animais está começando a ser uti­lizada em maior frequência, mesmo sem sua comprovada aplicação. Em algumas espécies animais pode ocorrer infecção por determinados parasitas, como é o caso da Fasciola hepatica, on­de a infecção em ovinos é bem mais se­ve­ra que em bovinos. O fato de tratar ovi­nos e caprinos seguidamente contra este parasita, amplia a chance da infecção por F. hepatica resistente, isto também em bovinos.

Obs.: Benefício temporário de curto prazo.

 

Local e forma de aplicação do medicamento

 

Estima-se que cerca de 80% das aplicações de vermífugos em grandes animais seja realizada de forma errônea no Brasil. O técnico deve sempre respei­tar a via de aplicação do medicamento (claramente descrito na bula), seja ela rea­lizada por via oral, subcutânea ou in­tra­­mus­cular, evitando as adaptações mi­lagrosas visando uma economia ilusó­ria.

Em pequenos ruminantes, a via mais comumente utilizada é a oral, onde se deve tomar cuidado para que ocorra uma perfeita administração do medicamento. É importante não estender a cabeça do animal acima da linha horizontal do dorso na hora da aplicação, com o objetivo de não ativar a goteira esofá­gica, diminuindo a eficácia do medicamento. No caso da aplicação subcutânea, deve-se inserir a agulha profundamente, direcionando-a de cima para baixo, para evitar o refluxo dos produtos com base oleosa.

Obs.: Benefício temporário de curto prazo.

 

Concentração e tempo de efeito

 

O conceito de que o efeito do medicamento seja em dobro quando o técnico dobra sua dose é errado. Então, de­ve-se trabalhar com medicamentos indicados para tal propósito. Alguns produtos trazem informações de ação prolongada. Calculadas as vantagens e desvantagens de se utilizar tal produto, o téc­nico deve prever o tempo deste bene­fício e calcular quando será necessária sua nova utilização.

Contrapondo a ideia de aumentar a dose, o mais prudente é tratar os animais com intervalos de 12 horas com ba­­ses de baixa concentração, com o obje­tivo de manter o nível tóxico do medi­camento no organismo por um período maior, com consequente efeito sobre os parasitas. A estratégia de elevar a do­se de qualquer medicamento causa di­retamente o aumento da seleção de parasitas resistentes.

Obs.: Benefício temporário de médio ou curto prazo.

 

Tipo da molécula

 

A criação de ovinos e caprinos foi amplamente beneficiada com a chegada dos primeiros compostos químicos para controle parasitário nos anos 40. Atualmente, várias drogas (levamisole, benzimidazole, closantel, disofenol e lac­to­nas macrocíclicas) são utilizadas com este intuito e o fato de serem utilizadas com grande frequência cresce a resistên­cia frente a elas. Cada um deles tem seu mecanismo de ação, que irá atuar em funções vitais do parasita. Parasitas dos gêneros Haemonchus sp., Tri­chostrongylus sp., Cooperia sp. e Oster­tagia sp. já demonstraram resistência frente a todas estas famílias. A escolha de produtos da mesma família não é, portanto, indicada e nem mesmo a alter­nân­cia frequente destes.

Obs.: Benefício temporário.

 

Espécie do parasita

 

Da mesma forma como é importante saber o tipo de molécula, é fundamental utilizar a classe de medicamento que irá agir sobre o parasita-problema do re­banho. Com isto em mãos, deve-se evitar o uso de compostos de amplo espectro sempre que possível. A utilização de medicamentos específicos tem o único objetivo de agir apenas nos parasitas alvos e evitar o desenvolvimento de resistência para outros parasitas.

Obs.: Benefício temporário.

 

Efeito do meio ambiente (fatores climáticos)

 

A disponibilidade de larvas infectan­tes nas pastagens está estritamente ligada com os fatores climáticos (chuva, seca, temperatura, umidade) de cada re­gião, portanto, o período de maior incidência de larvas é diferente em cada macro ou micro região do Brasil.

Na região Sul, por apresentar clima subtropical semelhante ao clima temperado, apresenta estações mais definidas durante o ano. Em períodos de se­ca (junho, julho e agosto na maioria do país), as larvas sofrem para sobreviver no pasto, devido ao ambiente desfavorável. Em contrapartida nos períodos chuvosos, a carga parasitária aumenta e, consequentemente, nos animais também. O período de maior infecção, no en­tanto, é no início e no final do período chuvoso, conhecido como período de translação, onde existe maior contato entre as larvas infectantes e os hospedeiros.

Solos com baixa umidade ou drena­dos e pasto mantido muito baixo podem desfavorecer a incidência de parasitas devido ao ambiente seco e a grande incidência de radiação solar. É importante ressaltar que nem o frio nem a seca im­pedem a ocorrência anual das parasi­toses e a indicação terapêutica de tratamento não deve ser mantida fixa em certos meses por existir uma significativa variação entre anos.

Obs.: Benefício temporário.

 

Impacto no meio ambiente

 

 Embora de baixo risco, o impacto dos resíduos de um antiparasitário ex­cretado pelo animal no meio ambiente pode ser exercido sobre diferentes formas de vida, inclusive ao homem. Caso a forma de uso e carência do produto sejam respeitadas, o risco do resíduo de um antiparasitário causar malfor­ma­ções em organismos da fauna e flora é quase nulo.

No Brasil, estima-se que cerca de 60% dos produtos antiparasitários utilizados são da classe das lactonas ma­cro­cíclicas. Estes compostos, quando eliminados nas fezes, ligam-se fortemente ao solo e podem permanecer ­estáveis por até 200 dias, porém, não mostram to­­xicidade em minhocas e animais aquá­ticos nas criações em tanques e próximos a córregos. Para mensurar tais danos, os melhores indicadores para a toxi­cidade no ambiente são besouros (co­leóp­­teros), por serem os primeiros colonizadores do esterco. O mais conhecido é o Onthophagus gazella (“rola-bosta”), sendo que os compostos antipara­sitários possuem efeitos diferenciados sobre eles.

A partir do volume de vendas e do ta­manho do rebanho bovino, calcula-se que no Brasil sejam liberadas 15 toneladas de ivermectina no meio ambiente por ano, porém, estudos mais aprofundados devem ser realizados para elucidar as pos­síveis modificações que possam ocor­rer em outros animais e ao homem.

Obs.: Dano fixo em larga escala, podendo ser temporário quando se adotam boas práticas agropecuárias de tratamento parcial seletivo.

 

Bem-estar animal

 

Cada vez mais cresce a preocupação com o bem-estar dos animais de pro­dução, não só na questão da ética, mas, sim, como parceiro na ­manutenção dos índices produtivos e melhorias nos resultados. Esta nova visão ou atitude em geral traz benefícios para o rebanho, que faz com que seja cada vez mais fácil lidar com os animais.

O método FAMACHA cabe perfeitamente neste conceito e pode servir como fator diferencial também no momento de comercialização tanto da carne (produção orgânica) como de ­animais para compor um rebanho selecionado tolerante ao parasita Haemonchus con­tortus.

Trabalhos realizados com bovinos mostraram que existe grande vantagem em se fazer aplicação de medicamento quando os animais estão contidos no tronco, garantindo principalmente tran­quilidade, segurança (diminuição de acidentes) e capricho no manejo que poderá refletir em melhores resultados, sem que ocorra maior tempo na execução da tarefa. No método tradicional, o tempo gas­to em média na aplicação de um anti­parasitário é de 10,2 segundos/cabeça, enquanto no método com a contenção individual no tronco é de 9,3 segundos.

Seria interessante comprovar o uso destas técnicas, correlacionando o grau de bem-estar com a condição imune do organismo, frente às agressões dos parasitas.

Obs.: Benefício temporário.

 

Conclusão

 

Muito embora os procedimentos ora mencionados possuam uma relação inversa quanto à seleção de organismos re­sistentes, cabe somente ao técnico sua justa aplicação. Sabendo inclusive que os parasitas já são marginalmente tolerantes aos tratamentos, qualquer falha na utilização do conhecimento pode­rá acelerar o aparecimento desta.

O objetivo aqui é orientar e propor que todos os métodos de controle ­sejam utilizados de forma integrada como prevê o Sistema Integrado de Controle Parasitário (SICOPA), buscando sempre a uti­lização de antiparasitários apenas de maneira complementar, visando mini­mizar a utilização de drogas e ao mesmo tempo maximizar a produtividade do rebanho.

Estes esquemas podem ser potencialmente elaborados por médicos-veterinários preparados para orientar produtores, propondo ações de longo prazo a fim de buscar máxima eficiência nos tratamentos com ganho zootécnico e alto grau de bem-estar do rebanho.

 

Marcelo Beltrão Molento e Leonardo Hermes Dutra são médicos-veterinários, especialistas em doenças parasitárias.

 






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