O Brasil passa por uma transformação significativa em sua pecuária. Os bovinos já passam de 200 milhões de cabeças: mais de 1,0 cabeça por habitante. O país já tem o maior rebanho comercial do mundo e é o maior exportador de carne. Mesmo assim, apenas 3,5% do rebanho bovino de corte é inseminado - o que permite acreditar que a situação poderá ser muito melhor, qualitativamente, quando a alta genética chegar, de fato, aos campos.
Sobre os ovinos, se até 1985, a imprensa falava apenas sobre a produção de lã, agora fala principalmente sobre carne e isto não é sem motivo. Na ovinocultura, os investimentos em genética dispararam na frente, a ponto de não haver borregos para abate. Todo novo criador já quer começar sendo um grande selecionador, pois ainda é relativamente fácil disputar e vencer nas pistas de exposições. O momento, portanto, é de expansão na produção de carne com alta genética.
Segundo estimativas da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO) cerca de 60% do consumo nacional depende de carne importada. Ou seja, existe um mercado potencial.
“Existe uma lacuna entre a produção e o consumo”, também comenta Décio Ribeiro, do Agrocentro. Pelas estimativas, o consumo per capita nacional é de 700 gramas por ano, enquanto na Nova Zelândia são 33 quilos per capita”. Já o consumo de carne bovina gira em torno de 36 quilos per capita, no Brasil, devido ao profissionalismo cultivado nos últimos 150 anos de criação de gado Zebu.
“A carne sempre foi um segundo produto da ovinocultura”, afirma o proprietário da VPJ Pecuária, Valdomiro Poliselli Júnior, mas nos últimos cinco anos, passou a ser artigo de luxo”. De fato, uma arroba de cordeiro vale R$ 140, enquanto a bovina gira em torno de R$ 80-90. Na avaliação de Poliselli, a criação de ovino em um sistema profissional tem uma rentabilidade de 35% a 40% ao ano: excelente como negócio quando comparado com qualquer outro ramo de atividade.
O criador Luís Roberto Dias da Silva, de Atibaia (SP), criador há sete anos da raça Santa Inês afirma: “eu vi que a ovinocultura podia ser uma importante fonte de proteína para o futuro”. O produtor começou o plantel voltado para a genética, mas já está transformando a vocação de seus animais. “Os preços já estão ficando irreais nos leilões”, avalia. Segundo ele, como houve uma evolução neste mercado, agora o plantel de ovinos para abate começa a crescer e será o grande filão para o futuro, pois não sofre altas e baixas.
Na VPJ Pecuária, o plantel é para a seleção genética, mas há dois anos a empresa abate ovinos em um sistema de integração - os produtores compram a genética da VPJ, que adquire, depois, o animal para o abate. Hoje o frigorífico abate em média entre 1,0 e 1,2 mil animais por mês, muito pouco para a capacidade do empreendimento, por enquanto. Isto significa que muita gente pode começar a produzir animais de corte, pois há escoamento garantido para a carne de qualidade.
Tudo é muito recente na ovinocultura de corte, no Brasil. Basta lembrar que a Tortuga, acreditando no crescimento deste mercado, há apenas nove anos lançou os primeiros produtos de nutrição específicos para a atividade e, agora é fabricante de antiparasitários. Muitos novos produtos farmacêuticos e nutricionais serão lançados pelas empresas. O Brasil está apenas engatinhando na ovino-caprinocultura de corte.
Em resumo: “a genética já está em um nível de desenvolvimento muito bom, mas existem poucos grandes projetos para a produção de carne”, afirma Paulo Schwab, presidente da ARCO. Schwab vai mais longe, afirmando que, se o brasileiro consumisse apenas 20% do que já consome de carne de gado, algo como 7,2 kg/ano, o rebanho nacional deveria ser de 100 milhões de animais! Se o rebanho bovino já é o maior do planeta, o de ovinos também poderá chegar lá, com facilidade. Afinal, não é muito comer um bife por semana, ou 133,30 gramas.
Schwab acredita na ovinocultura de corte como fornecedora de proteína animal no Brasil, pois ocupa menos espaço no pasto que um boi.
Para dar maior credibilidade ao setor, a ARCO criou um projeto-piloto de certificação da carne, que vem funcionando apenas no Rio Grande do Sul. O animal precisa ter até um ano de idade, com peso vivo entre 25 a 40 quilos e acabamento corporal de 2,5% a 4% de gordura. A intenção é que o “selo” seja nacional. Schwab lembra que o ovino é um “animal completo”, pois além da carne, produz lã, leite, pele e estrume, além de especiarias. Do cordeiro nada se perde e muito se ganha.